Cristiana Xavier de Brito | Histórias que Inspiram #15
"Se você se inspira em alguém que faz melhor que você, você chega lá mais rápido, por aprender com os erros e acertos dos outros."
Uma vez por mês, eu compartilho histórias inspiradoras de profissionais que se reinventaram na carreira. Seja mudando de atividade, criando um projeto paralelo, ou trabalhando em uma nova carreira, sempre em busca de uma vida equilibrada e com significado. Pegue sua xícara de café e boa leitura!
No começo deste ano, recebi um livro de presente de uma amiga querida - que conheço apenas virtualmente - a Fê Imperatrice. Junto com o livro, ela me mandou um bilhete: “Pri, separei este livro para você - Mulher Alfa: liderança que inspira - porque alguns pontos me fizeram refletir. Mas escolhi este porque a todo momento pensei na sua versão do 'Histórias que Inspiram'. Inclusive, acho que você pode entrevistar a Cristiana para a news. O que acha?”
Li o livro e fiquei encantada com a história da Cris. Pedi para a Fê nos conectar e mandei uma mensagem perguntando se ela toparia compartilhar sua história profissional neste espaço. Ela super aceitou e a personagem da edição de março do Histórias que Inspiram é a Cristiana Xavier de Brito. Com uma trajetória marcada pela comunicação, liderança e pelo compromisso com a equidade de gênero no ambiente corporativo, Cristiana é autora do livro Mulher Alfa: liderança que inspira, no qual fala sobre liderança feminina, as mudanças urgentes no mundo corporativo e o equilíbrio entre carreira e maternidade.
Terceira de quatro irmãos, Cristiana é filha de uma mineira criada no Rio de Janeiro e de um carioca da gema. Cresceu em uma família de classe média que se mudou várias vezes devido ao trabalho de seu pai na siderurgia. Passaram pelo Rio, Volta Redonda e, depois, Santos. A mãe, professora, sempre valorizou a educação — não apenas de forma tradicional, mas também no respeito às diferenças e no incentivo à autenticidade.
Separa a caneca de café e vem conhecer a história da Cris para se inspirar!
→ Como foi o começo da sua trajetória? Você já sabia que queria trabalhar com comunicação desde a graduação?
Comecei a trabalhar no segundo mês da faculdade. Entrei na FAAP (Fundação Armando Álvares Penteado, em São Paulo) para estudar no turno da manhã. Logo percebi que não me identificava completamente com o ambiente. No semestre seguinte, migrei para o período noturno, onde havia mais diversidade, com pessoas que trabalhavam durante o dia. Isso me motivou a buscar estágios. Na década de 80, os estágios não eram remunerados, mas mesmo assim trabalhei em produtoras e agências de publicidade para ganhar experiência.
Desde o início, enfrentei desafios como preconceito e falta de respeito, especialmente em ambientes onde o assédio era comum. No entanto, minha base ética e o apoio da minha família me ajudaram a seguir focada na minha trajetória. Percebi que não queria continuar nesse ambiente de publicidade, então decidi buscar experiências em grandes empresas. Foi nesse momento que minha mãe, que tinha uma confecção, me chamou para trabalhar com ela. Recusei uma vaga em um banco europeu e passei três anos nesse novo desafio. Embora tenha aprendido muito sobre gestão e contato humano, percebi que queria algo maior: trabalhar em grandes organizações para impactar mais pessoas.
→ Como foi sua entrada no setor corporativo?
Depois de trabalhar com minha mãe, decidi ingressar em uma grande empresa e comecei na HP, onde trabalhei quase 10 anos. Meu primeiro dia foi em 1994, e lembro de contar para o meu pai sobre uma tecnologia incrível lá: um sistema de mensagens onde eu escrevia e meu colega do Japão lia instantaneamente. Era o início da internet corporativa!
Fui para o departamento de comunicação e marketing, que trabalhava diretamente com vendas. Naquela época, os engenheiros queriam explicar minúcias técnicas dos produtos, mas nossa função era traduzir isso para o consumidor final. Cresci nesse ambiente e tive minha primeira oportunidade internacional dentro da HP.
“Sempre fui tomada por uma capacidade que considero tipicamente feminina: a de se reinventar. Foi isso que me fez reciclar conhecimento, aperfeiçoar habilidades e tirar o melhor de cada situação em cada desafio profissional, sempre com o apoio da minha família e de pessoas de confiança.”
→ Aos 29 anos, recém-separada, você decidiu se mudar para o México. Como foi essa experiência?
Durante uma convenção na Costa Rica, liguei para minha mãe e disse que haviam me oferecido essa vaga no México. Ela me respondeu: "Vai, minha filha." Isso foi decisivo. Se ela tivesse hesitado, talvez eu não tivesse ido. Voltei para o Brasil já contratada para a posição.
Viver no México foi um desafio. Era um país violento e machista, mas ao mesmo tempo fascinante. Tive apoio da empresa e da minha rede de contatos, o que ajudou muito. No meio disso, conheci meu marido, que estava em Miami. Construímos um relacionamento a distância até que, depois de três anos, ele decidiu voltar ao Brasil. Isso me fez refletir muito, mas negociei bem minha transição e voltei também.

“Ao longo da minha carreira também aprendi que paralisar o jogo por medo de arriscar e de enfrentar situações desafiadoras é desperdiçar o futuro e deixar de construir um legado significativo. Ao enfrentar os problemas e dilemas, os horizontes se abrem e o seu propósito amadurece.”
→ Como você equilibra a vida profissional e a maternidade?
Eu sou privilegiada, sem dúvida. Meu filho nasceu quando eu já tinha 36 anos, estava mais madura e com uma carreira consolidada. Além disso, meu marido estava em uma fase de carreira mais estável, o que me ajudou muito. Ele ficava mais em casa, e eu podia focar no trabalho. Mas, para conseguir equilibrar, sempre tive uma rede de apoio, principalmente de familiares. Eu morava perto da minha mãe e sogra, o que facilitava muito, especialmente quando meu filho era pequeno.
No entanto, isso não significa que o equilíbrio seja perfeito. Quando você está em um cargo de alta responsabilidade, muitas vezes você tem que negociar, fazer escolhas, mas nunca senti culpa por isso. Eu estava dando o meu melhor, e meu filho sempre teve o apoio necessário.
“A equação vida familiar versus a profissional é somente um dos dilemas que tiram o sono das mulheres e minam seu futuro. Elas também refletem sobre promoções, independência financeira e realização pessoal, e sentem muito medo de passar por uma demissão.”
→ Você sempre teve um plano ou sua trajetória foi acontecendo naturalmente?
Sempre tive um norte claro, mas não um planejamento milimétrico. Meus pais me estimularam a pensar no futuro e a refletir sobre o que eu queria. Nunca me deram respostas prontas, apenas faziam as perguntas certas. Isso me ajudou a construir uma trajetória onde eu pudesse tomar decisões estratégicas e aproveitar oportunidades com consciência.
→ Você acha que a intuição é um diferencial importante para as mulheres, especialmente no universo corporativo que ainda é predominantemente masculino?
Sem dúvida! A intuição é fundamental. Claro que com o tempo você aprende a confiar mais nela, e isso exige maturidade. Quando eu tinha 27, 28 anos, e estava na Costa Rica, tive uma intuição sobre uma vaga que surgiu na empresa, e aquilo foi muito importante para a minha trajetória. Eu acabei aceitando, e aquilo foi fundamental para a minha evolução. A intuição se conecta com o autoconhecimento, e quanto mais você se escuta, mais as respostas surgem. Eu sempre procurei me conectar com minha intuição e fazer reflexões profundas, pois acredito que ela me guia para onde devo ir.
→ Como surgiu a ideia de escrever o livro "Mulher Alfa"?
O livro surgiu quando eu me vi como a única mulher no comitê executivo da empresa. Eu fui a primeira e nenhuma outra mulher chegou antes de dois anos. Eu estava começando a ganhar visibilidade dentro da organização, pois sempre trabalhei muito e entreguei resultados. Quando comecei a perceber que minha presença estava incomodando um pouco, pensei: ou eu ajudo a empresa com as metas de diversidade, ou busco um ambiente mais acolhedor. Eu vinha de uma empresa com 50% homens e 50% mulheres no comitê executivo, e isso fez toda a diferença na minha percepção.
Foi quando decidi criar um grupo de mulheres dentro da empresa. Pesquisei outras iniciativas em locais como Europa e América do Norte e apresentei ao meu chefe, que prontamente apoiou a ideia. Criei o grupo e logo vi a potência nas mulheres com quem conversei. No início, eram 90 mulheres, mas no primeiro ano já alcançamos 500. A empresa apoiou, o RH entrou de forma estratégica, e começamos a fazer um trabalho super estruturado com objetivos claros. A jornada foi incrível, mas ao longo desse processo percebi que não podia ser só minha história. Precisava envolver outras mulheres, histórias que se conectassem com mais pessoas. Foi assim que surgiu a ideia de escrever o livro. Ele foi lançado no dia 8 de março de 2018 em um evento que contou com mais de 400 pessoas – o auditório estava lotado. Esse processo levou cerca de cinco meses de muito trabalho e dedicação, e posso dizer que ninguém faz nada sozinho. Durante esse tempo, meu marido, que sempre me apoiou, me ajudou muito, inclusive na parte da redação. Curiosamente, quem deu o nome do livro foi ele.
→ O que é uma “mulher Alfa”?
A palavra “Alfa” reflete essa força de liderança, sem perder de vista o fato de que a verdadeira liderança é inclusiva e voltada para a transformação social. O objetivo do livro sempre foi esse: contribuir para um mundo mais igualitário.
“Essas Alfas estão por toda parte, dentro e fora do mundo corporativo. Exalam a força da sua própria natureza, transformando a famigerada vulnerabilidade feminina em estopim da inovação na carreira e na vida. Vestidas de si, essas líderes inspiram a todos homens e mulheres, por suas escolhas, atitudes e decisões.”
→ Como foi o processo até o lançamento?
Para fazer isso acontecer, foi necessário enfrentar muitos desafios. Eu sabia que teria que trabalhar por cinco meses em paralelo com minha rotina na empresa, o que significava abrir mão de algumas coisas, como sair com amigos ou dedicar tempo a outras atividades. Mas acredito que, para alcançar um propósito maior, é preciso confiar na intuição. Quando você está conectada consigo mesma, a intuição se torna um guia poderoso, e você sabe exatamente quando é o momento de se entregar a um projeto.
Inicialmente, eu queria que o livro fosse mais do que a minha história pessoal. Percebi que não poderia ser uma trajetória única, porque seria muito restrita. Então, a ideia de incluir a história de 10 mulheres surgiu naturalmente. Algumas delas eu já conhecia, enquanto outras foram indicadas. O mais importante para mim era que essas mulheres não fossem inatingíveis ou figuras públicas distantes, mas mulheres reais, com histórias que outras pudessem se identificar. Essa foi a chave para que o livro fosse acessível e inspirador para muitas mulheres. E, claro, tudo isso não seria possível sem o apoio da minha equipe, que me ajudou a tornar esse projeto uma realidade.
“Se você se inspira em alguém que faz melhor que você, você chega lá mais rápido, por aprender com os erros e acertos dos outros.”
→ Uma dica de leitura, além do seu livro, claro!
(risos!). O livro Mulher Alfa: Liderança que Inspira está disponível na Amazon na versão física e digital. E no Kindle também tem em inglês e alemão.
Mas um livro que me ajudou muito é O Poder do Agora, do Eckhart Tolle. Ele aborda essa questão do presente, de aprender a lidar com a situação do agora, seja ela boa ou ruim. É mais um pouco do autoconhecimento na nossa vida.
→ Uma pessoa inspiradora?
Nossa, tem tanta gente. Mas, agora, você é uma pessoa que me inspira, Pri! Esse trabalho que você faz de entrevistar mulheres e contar suas histórias pessoais e profissionais para mim é inspirador.
Cris, conhecer sua história e poder contar um pouquinho é inspirador, você é inspiradora!
Nos encontramos na próxima edição do Histórias que Inspiram! 😉
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