Flávia Ferrari | Histórias que Inspiram #11
“Ser feliz é para quem tem coragem de ser feliz. Porque para ser feliz, a gente precisa ter coragem para assumir nossos medos.”
Uma vez por mês, compartilho histórias inspiradoras de profissionais que se reinventaram na carreira. Seja mudando de atividade, criando um projeto paralelo, ou trabalhando em uma nova carreira, sempre em busca de uma vida equilibrada e com significado. Pegue sua xícara de café e boa leitura!
Minha história com a Flávia Ferrari, entrevistada deste mês do Histórias que Inspiram, tem quase 18 anos. Nos "conhecemos" na época que escrevíamos blogs, em 2008. O meu, Satisfeita com a Vida, servia para organizar os pensamentos e sentimentos. A Flávia escrevia o Decoracasas e escrevia sobre a casa e as nossas relações dentro dela. Nossa história tem dessas coincidências da vida. Quando começamos a comentar nos blogs uma da outra, descobrimos que moramos por anos na mesma cidade, Americana (SP), mas nunca nos encontramos pessoalmente. E, apesar de tudo em que a internet se transformou atualmente, sou muito feliz pelos encontros que ela me proporciona até hoje.
Depois de anos escrevendo no Decoracasas ela criou o "A Dica do Dia" o maior canal de dicas para casa no Youtube com mais de 1 milhão de inscritos.
Em 2017, Flávia lançou seu primeiro livro, o "A Dica do Dia: Soluções práticas para facilitar sua vida" com a compilação das melhores dicas para facilitar nosso dia a dia. Ela colecionou e registrou ao longo dos anos centenas de dicas e truques do cuidado com o lar.
Hoje, ela não aborda apenas assuntos relacionados com a casa.
"Não quero apenas falar sobre nossa relação com o lar. Quero libertar as mulheres do peso das rotinas domésticas. Criei um método, o 'Cronograma da Casa', para organizar nossas rotinas. E agora estou dando mais um passo nesse processo de evolução abordando temas relacionados ao universo feminino como a autoestima."
Flávia tem 49 anos, é mãe da Beatriz, de 18 anos, e do Fernando de 17 anos. Atualmente vive em Vinhedo (SP) com o Ricardo, seu marido e alma gêmea.
Separe sua xícara de café ou chá ou uma saborosa taça de vinho e inspire-se com a história da Flávia.
→ Nossos textos "se cruzaram" na internet há mais de 15 anos. Mas esse não foi o início da sua carreira. Como foi o começo da sua vida profissional?
Nossa! Eu já fiz várias mudanças, Pri. Sou formada em engenharia, fiz um MBA na Itália e tenho uma especialização em marketing. Porém, os únicos projetos que fiz como engenheira foram as obras na minha casa. Depois que me formei na faculdade, fui trabalhar na Editora Abril, em São Paulo, como trainee, porque eu sempre gostei de revistas. Trabalhei com marketing e no desenvolvimento de novas publicações, inclusive trazendo novos títulos para o Brasil. Quando houve o primeiro boom da internet fui trabalhar com telecom e novas tecnologias. Nunca saí da área de comunicação e conteúdos, algo que sempre me atraiu. Nessa época, fui para Itália fazer um MBA. Quando retornei ao Brasil, fui trabalhar na área farmacêutica. Nesse período, cheguei em um ponto da minha carreira executiva onde sempre quis. Eu tinha sala com o nome na porta, celular da empresa, carro corporativo, cartão de crédito corporativo, enfim, tinha tudo que sonhei, mas não estava feliz.
→ Nessa época da vida profissional você já estava casada e tinha filhos?
Sim, já estava casada com meu primeiro marido e estava perto dos 30 anos. Meu relógio biológico começou a apitar e queria ter filhos. Cheguei no momento de decidir entre ser mãe, continuar com a carreira executiva e terceirizar 100% a criação dos meus filhos. Só que eu não queria escolher. Minha mãe faleceu quando eu tinha 21 anos e eu queria aproveitar cada instante com meus filhos, algo que não pude ter com ela. Apesar de ser uma profissional bem sucedida com uma excelente carreira, ótimo salário, a minha escolha foi ficar em casa.
→ A escolha por dedicar-se à maternidade aconteceu sem peso na consciência?
Imagina! O peso na consciência existe porque a gente nasce com uma chibata nas mãos para nos punir o tempo todo. Eu decidi ficar em casa e todas as minhas amigas continuaram trabalhando. Além de terem independência financeira, a vida delas era muito mais interessante que a minha. Durante um tempo eu consegui administrar a criação da Beatriz, minha filha mais velha, e alguns serviços de consultoria em planejamento estratégico empresas. Quando o Fernando nasceu, um ano e nove meses depois, descobri que não daria conta de ter a vida que queria ao lado deles, com a qualidade que desejava, e também trabalhar. Foi nesse momento que a escolha foi ficar 100% em casa para criá-los.
→ Você acredita que o fato de não estar feliz no trabalho ajudou a decisão de ficar em casa para cuidar dos filhos?
Talvez. Se eu amasse o que estava fazendo, provavelmente seria mais difícil decidir sair do mercado de trabalho. Acredito que foi uma confluência de fatores para que eu deixasse o mundo corporativo.
→ Foi nesse momento da sua vida que surgiu o Decoracasas, seu primeiro blog?
Fiz a escolha de ficar em casa e com meus filhos, mas não sabia como cuidar de uma casa, como limpar, como organizar. Para resolver essa necessidade, comecei a estudar, pesquisar e testar as melhores formas para fazer tudo isso sem complicações. Escrever sempre foi algo que me deu prazer e, para me salvar de mim mesma e sair daquele cenário da solidão que vivia com duas crianças pequenas em casa, resolvi unir esse meu aprendizado com a paixão pela escrita. Assim nasceu o Decoracasas, em 2008.
O universo do blog me alimentava, mas não tinha remuneração. Estamos falando de 2008, 2009, quando tudo era mato e as grandes mídias ainda dominavam a comunicação. Eu não sabia para onde o blog estava indo, em que ele poderia se transformar, mas era uma atividade que me dava prazer e conseguia conciliar com a maternidade.
→ O Decoracasas cresceu e se transformou no "A Dica do Dia"?
"A Dica do Dia" surgiu nesse processo de evolução do meu trabalho, deixando um pouco os textos e investindo nos vídeos. O formato inicial eram vídeos inéditos duas vezes na semana. Comecei a gravar ainda no apartamento que morava com meu primeiro marido. Depois que me divorciei, "A Dica do Dia" foi se adaptando à minha nova realidade. Mudei para um apartamento menor, com um novo cenário e me reinventei internamente. É o maior canal de dicas no Youtube com mais de 1 milhão de inscritos. São centenas de vídeos com as mais variadas dicas testadas e aprovadas. Sou muito feliz e grata com tudo o que ˜A Dica do Dia˜ me proporcionou.
→ Percebi que, há algum tempo, você não aborda apenas o tema casa. Depois de todos esses anos, com a "A Dica do Dia", agora você está se reinventando?
Não sei se é uma reinvenção, mas é uma evolução do meu processo pessoal que se reflete no trabalho. Deixei São Paulo e mudei para o interior do Estado, casei com o Ricardo, e comecei a ter vontade de abordar outros assuntos. Desde 2022, não estava mais 100% satisfeita em falar apenas sobre dicas para casa. Decidi estudar um pouco mais sobre autoestima, um assunto que sempre me interessou. Agora, chegou o momento de utilizar a casa para falar sobre outros temas que passam pelo universo feminino.
→ "A Dica do Dia" vai deixar de existir?
Não dá para parar com "A Dica do Dia" depois de tudo o que conquistei. Esse é o projeto que me dá retorno financeiro e pelo o que ainda sou reconhecida. Grande parte das minhas visualizações nas redes sociais vêm do canal do YouTube. Entendi que não precisamos ˜matar˜ algo para começar um novo. Você não precisa renegar seu passado. O que estou fazendo é incluir novos olhares para o tema principal, assim como eu mesma estou evoluindo. A minha força está em outros lugares e não apenas na casa. Vejo que é um novo caminho muito bonito que está vindo pela frente.
→ Sempre admirei seu trabalho. Você se joga nas oportunidades, parece não ter medo de nada.
Tenho medo, mas vou mesmo assim. O autor italiano, Lorenzo Jovanotti Cherubini, fala que o universo pune quem tem asas e não voa. Aprendi, ao longo dos anos, a minimizar o medo. Já fiz muitas coisas com medo porque não tinha outra alternativa. Uma amiga diz que não tem nada mais perigoso do que uma pessoa que não tem absolutamente nada a perder. Nem sempre aquele medo que sentimos se materializa e pode ser um medo imaginário. A gente só vai saber se é real ou não se fizer o que precisa ser feito.
→ Você sempre teve esse perfil de se arriscar?
Tive uma chefe incrível na época que era trainee na Editora Abril. Um dia ela me disse que tudo o que eu fazia era com muita qualidade. Foi a primeira vez que ouvi que a qualidade do que eu entregava era um diferencial. A gente não aprende a valorizar aquilo em que somos realmente boas, aquilo que é o nosso original de fábrica. Acreditamos que todo mundo faz igual, mas não é verdade. Cada pessoa é única e tem algo especial. Precisamos aprender a valorizar essas diferenças.
→ Hoje, você consegue valorizar seus diferenciais?
Sim, hoje eu consigo e provoco as mulheres para que façam o mesmo. Fico incomodada com quem diz que não consegue. A gente precisa começar a ser mais generoso com a gente mesmo, ser menos crítica.
→ Hoje, você consegue valorizar seus diferenciais?
Estou em um ponto da vida que é muito interessante. Meus filhos estão começando a sair de casa e estou me questionando qual é o meu próximo passo. "A Dica do Dia" me trouxe até aqui, mas agora têm novos degraus para subir. Como eu evoluí em todos esses anos, quero que as pessoas também possam avançar. A gente só consegue subir para o próximo degrau se o pensamento estiver organizado. É justamente isso que eu quero fazer, cutucar as pessoas para que possam subir novos degraus.
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Um beijo e até o próximo mês com mais uma edição do Histórias que Inspiram.
Pri Tescaro