Ale Garattoni | Histórias que Inspiram #13
Nerd, curiosa, inquieta, amo moda & saúde. Carioca em SP, a ponte-aérea é meu lugar favorito do mundo. Escrevo as newsletters que eu queria ler!
Uma vez por mês, eu compartilho histórias inspiradoras de profissionais que se reinventaram na carreira. Seja mudando de atividade, criando um projeto paralelo, ou trabalhando em uma nova carreira, sempre em busca de uma vida equilibrada e com significado. Pegue sua xícara de café e boa leitura!
Quando decidi estudar jornalismo na faculdade, meu objetivo era contar histórias. Sou apaixonada por ouvir e compartilhar histórias. Fiz isso nas redações pelas quais passei e, hoje, tenho a liberdade de fazer do meu jeito, nas minhas regras. E uma das minhas regras é entrevistar pessoas que admiro.
Para encerrar a temporada de 2024 das Histórias que Inspiram, escolhi uma das pessoas que mais me inspiram. A Alessandra Garattoni, ou apenas Ale, estava no meu caderno de desejos há meses. Resolvi arriscar e fiz o convite. E ela aceitou (confesso que fiz a dancinha de alegria para celebrar 😀).
Acompanho o trabalho da Ale desde 2007, quando ela escrevia no blog It Girls, um dos primeiros blogs brasileiros sobre moda e estilo de vida. O blog It Girls se transformou em livro e encerrou em 2011. De lá para cá, ela criou outros blogs – sobre vida saudável, maternidade, estilo de vida – e hoje escreve duas newsletters que valem a assinatura: Amo News e a Daily 40s.
Na entrevista abaixo, ela conta sobre os ciclos profissionais que vivenciou (e como faz para encerrar) e como sua curiosidade é a responsável por estar sempre um passo à frente nas tendências.
“Eu tenho uma sensibilidade para perceber quando algo chega a um platô, quando já não faz mais sentido para mim, mesmo que ainda esteja em alta para os outros. Acho que existem ciclos e momentos em que a gente alcança o pico de crescimento, e ali começa a sentir que é hora de mudar.”
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→ Quando a administradora se transformou em jornalista?
Acho que a pergunta seria: “Por que o jornalismo não entrou antes na minha vida?” Foi por imaturidade. A gente termina a escola muito cedo e não tem certeza das escolhas. Meu único vestibular foi para Economia na PUC-RJ, porque sempre gostei de exatas, embora não fosse uma boa aluna. Não passei e acabei tirando um sabático de seis meses – que, na época, nem tinha esse nome! No ano seguinte, prestei vestibular novamente para Economia e para Jornalismo. Escolhi o primeiro porque a faculdade ficava a três quadras de casa e, com 18 anos, a praticidade venceu (risos!).
Cursei Economia, mas logo mudei para Administração, porque comecei a me interessar por marketing. Depois de formada, fui trabalhar com exportação e finanças na marca da estilista carioca Isabela Capeto. Por ser uma empresa pequena, acabei me envolvendo com a comunicação, respondendo às entrevistas e lidando com assessoria de imprensa. Foi nesse período que a sementinha do jornalismo começou a crescer. Em 2004, fiz uma especialização em jornalismo de moda e criei meu primeiro blog, o que confirmou a minha vontade de fazer a transição para a comunicação. Esse foi o pontapé inicial na minha carreira na internet.
Esse foi o momento em que percebi que estava mordida pelo bichinho do jornalismo, e começou minha primeira transição de carreira, em 2006.
→ Como foi a mudança para São Paulo e o início na redação?
Em 2006, fui convidada para cobrir o Fashion Rio pelo Glamurama da Joyce Pascowitch. Eu amava o site, e foi uma grande alegria fazer esse trabalho, pois era a oportunidade que queria para fazer a transição definitiva para o jornalismo. Depois do evento, fui convidada para ser correspondente do site no Rio e fiquei nesse trabalho por três meses. Em abril de 2006, recebi a proposta para assumir uma vaga fixa na equipe, mas em São Paulo. Entre aceitar o convite e mudar, passaram-se 15 dias. E lá se vão 18 anos.
→ Conta como foi a sua trajetória no site RG e na revista Vogue?
Comecei no Glamurama, mas logo passei para o site da RG Vogue (espaço derivado da revista Vogue destinado ao mundo das celebridades), títulos que na época pertenciam a Carta Editorial. O objetivo ao aceitar essa vaga era me aproximar da redação da Vogue, pois trabalhar na revista impressa era um grande sonho. No site RG, comecei como colaboradora e, aos poucos, fui escalando. Passei a colaborar para a versão impressa (revista) RG e depois para a Vogue. Fiquei nesse vai e vem entre os dois veículos entre 2007 e 2009. Depois disso, retornei à revista RG como editora de texto. Minha relação com a Carta Editorial foi decisiva para minha formação no jornalismo.
→ Foi nessa época que nasceu o blog It Girls?
Sim, o It Girls surgiu no fim de 2007, enquanto eu trabalhava no site da RG Vogue. Começou como um hobby, mas acabou mudando minha trajetória profissional. Naquela época, eu estava focada no digital – mesmo que o impresso ainda fosse mais valorizado e prestigiado. Curiosamente, trabalhar em site era visto como uma espécie de “segunda classe”. O blog foi a maneira de me posicionar como escritora, foi o espaço com a minha identidade.
Os blogs estavam começando a surgir, e eu via isso como uma oportunidade. Eu queria usar o It Girls para colocar minha visão no mundo. Desde o início, tive muito claro que o blog seria algo que representasse meu nome e minha perspectiva. Ele não era “sobre as It Girls”; ele era "It Girls por Ale Garattoni”. Eu realmente queria botar o meu nome no projeto. Isso fez toda a diferença para que meu trabalho ganhasse visibilidade.
→ Você imaginou que o It Girls fosse crescer tanto, a ponto de ser transformado em livro?
Acho que, intuitivamente, eu sabia que ele tinha potencial, mas não fazia ideia de até onde poderia chegar. Lembro que, cerca de três meses após o lançamento, recebi um e-mail da jornalista Maria Prata, que na época era editora de moda da Vogue. Ela escreveu dizendo que adorou o blog e que seria muito útil para as pesquisas da equipe dela. Aquilo foi muito marcante para mim. Talvez a Maria nem lembre disso, mas ela teve um papel importante na minha trajetória.
Em 2008, a Maria me convidou para ser assistente dela no Fashion Rio, cobrindo os bastidores. Foi uma oportunidade incrível! Ela gostou do meu trabalho e levou esse feedback para a redação. Na época, a jornalista Dani Falcão era a diretora da Vogue. Algum tempo depois, recebi uma proposta para trabalhar de forma diferente: um novo cargo, salário mais alto e a inclusão da Vogue, na versão impressa, no pacote, além do site da RG.
Essa transição mudou meu status profissional. Essa fase foi um divisor de águas, tanto para consolidar minha carreira no jornalismo quanto para posicionar o It Girls como um projeto de relevância no cenário da moda e estilo de vida.


→ Por que você decidiu encerrar o It Girls e lançar o livro?
O blog estava em seu auge, com uma grande audiência e oportunidades de ganhar dinheiro com contratos fechados. No entanto, percebi que meu ciclo com ele estava chegando ao fim. Já não me sentia mais alinhada com o que estava fazendo e senti que era o momento de dar um novo direcionamento à minha carreira. O livro It Girls foi a culminação do trabalho que fiz no blog, mas de uma forma mais refinada e consolidada.
O livro representava uma nova fase para mim, onde eu poderia ampliar minha mensagem, mas também começar a olhar para novas possibilidades e desafios.
→ Você encerrou o ciclo do It Girls, lançou o livro, decidiu dar um tempo na carreira e tornou-se mãe. Como foi esse período?
Saí do mercado editorial fixo em 2011, logo após lançar o It Girls como livro. Durante aquele ano, trabalhei na área de comunicação e marketing de um e-commerce de moda, mas percebi que estava em um momento de transição na vida. Com 35 anos, já pensava em desacelerar, focar em projetos próprios e engravidar. No fim de 2011, saí desse trabalho sem ter um plano exato, mas nunca fiquei parada — sempre surgiram projetos pontuais. Em 2012, engravidei e decidi viver intensamente a experiência da maternidade. O ritmo de redação nunca combinaria com minha nova rotina, então foi o momento certo para essa mudança. A Maria Helena nasceu em maio de 2013 e, durante esse período, mantive um blog pessoal, onde escrevia de tudo, desde reflexões sobre maternidade até outros temas da minha vida. Esse blog evoluiu e, mais tarde, se transformou no embrião da Amo Branding, que nasceu em 2014, depois que publiquei um post sobre branding para pequenos empreendedores. Esse texto foi o ponto de virada para essa nova fase da minha carreira.
→ Essa transição foi natural ou você precisou se reinventar completamente?
Foi um pouco dos dois. Um marco importante dessa fase foi quando recebi, em 2014, uma proposta para dar uma palestra de branding para o mercado de casamentos em Belém. Eu já escrevia sobre o tema, estudava muito e aplicava na minha própria carreira, mas nunca tinha falado sobre isso publicamente, muito menos em formato de palestra. A experiência mais próxima que eu tinha era dos bate-papos informais na época do lançamento do livro It Girls. Mesmo assim, aceitei o desafio.
A palestra foi marcante. Eu preparei tudo de forma super simples, levei minhas fichas (literalmente fichas da Xuxa!) e fui sem apresentações elaboradas ou efeitos visuais. Ao final, recebi um feedback incrível de uma pessoa da plateia, elogiando como eu consegui prender a atenção da sala apenas com as minhas palavras e ideias. Isso me deu confiança para explorar esse novo caminho e, a partir dessa experiência, surgiu a Amo Branding, que nasceu oficialmente em agosto de 2014 com o primeiro curso presencial.
Foi ali que percebi que, além de amar o tema, eu tinha uma forma única de comunicar e conectar com as pessoas. Essa experiência foi, sem dúvida, um divisor de águas.
→ A Amo Branding começou com os cursos presenciais, depois vieram os conteúdos no Instagram e quando a pandemia chegou você migrou para o online. Como foi esse processo?
A Amo Branding nasceu inicialmente com a ideia de democratizar o branding para todos. Com o tempo, ela cresceu, recebi convites para dar palestras em empresas e eventos e, em agosto de 2014, criei o primeiro curso presencial. Até a pandemia, meus eventos eram todos presenciais.
Em março de 2020, eu estava com uma turma do meu curso presencial, que durava quatro dias, com participantes que vieram de todo o Brasil para São Paulo. Na quarta-feira, no meio do curso, comecei a receber mensagens de participantes dizendo que estavam em situações de risco de contágio de Covid. Foi um momento de decisão rápida, mas eu não podia colocar ninguém em risco. Escolhi cancelar o curso presencial e transformar as aulas em online. Entreguei o restante do conteúdo via Zoom, e o que eu imaginava que seria apenas uma adaptação de emergência acabou se estendendo por mais de dois anos. Os cursos online foram vendidos entre 2020 e 2021 e foram um novo capítulo para a Amo Branding.


→ E quando tudo estava novamente no auge você decidiu encerrar a Amo Branding.
Foi em agosto de 2021. Decidi encerrar a Amo Branding e fiz um vídeo no Instagram explicando a decisão. Não foi por um único motivo, mas sim por uma série de fatores. Um dos principais foi o boom dos cursos online gerados pela pandemia. Percebi que muitas pessoas, sem formação ou estudo aprofundado, começaram a se autodenominar especialistas em branding após fazer workshops rápidos. Isso me incomodou bastante.
Branding é algo que exige base, estudo, leitura — não é simplesmente algo superficial, como alguns estavam vendendo. Vi que o branding estava se tornando uma commodity digital e não queria ser parte disso.
É lógico que tomei essa decisão com dor no coração, meio sem saber o que eu ia fazer. Eu não sabia exatamente o que faria profissionalmente a seguir, mas senti que precisava seguir meu instinto e dar esse passo. Curiosamente, o fim desse ciclo aconteceu em agosto, mês do meu aniversário e também o mês em que a Amo Branding completava sete anos. Decidi tirar tudo do ar e me despedir, fechando este capítulo.
→ Quando você chega ao ponto final em um projeto, ele é tranquilo ou ainda envolve sofrimento?
O sofrimento acontece antes, é o que ninguém vê. A parte difícil, o processo de dúvidas, de questionamento, é o que me afeta antes de eu colocar o ponto final. Quando chego no momento de fazer aquele vídeo de despedida, dizendo "gente, tchau, obrigada", é porque o sofrimento já passou. Já vivi aquele luto internamente e resolvi o que precisava ser resolvido. Quando externalizo, já está tudo bem dentro de mim. Então, quando chego ao ponto final, já não tenho arrependimentos, porque o processo de reflexão já foi vivido antes.
→ Você encerra algo quando está em alta para os outros, mas para você já não faz mais sentido. Como funciona esse processo?
Eu tenho uma sensibilidade para perceber quando algo chega a um platô, quando já não faz mais sentido para mim, mesmo que ainda esteja em alta para os outros. Acho que existem ciclos e momentos em que a gente alcança o pico de crescimento, e ali começa a sentir que é hora de mudar.
→ Eu percebo que seus negócios e projetos surgem de temas pelos quais você se interessa profundamente. Isso tem a ver com o seu olhar curioso?
Sim, totalmente! Eu descobri que, na verdade, o que eu tenho é um hiperfoco. Eu me apaixono por um assunto de forma intensa e não consigo ficar no superficial. Quando algo me interessa, minha curiosidade vai lá em cima e eu quero entender tudo sobre aquele tema. Isso se reflete nos meus projetos profissionais também. Por exemplo, sou a "louca dos livros"! Se você me falar de um assunto que me cativa, eu vou lá e compro um monte de livros sobre aquilo. Vou mergulhar de cabeça. Um exemplo disso é a saúde, um tema que comecei a estudar como hobby em 2016. Até pouco tempo atrás, eu era a pessoa que vivia de jujuba e Coca-Cola, mas quando algo me chama atenção, eu quero entender cada detalhe.
→ Qual foi o principal desafio na sua carreira, especialmente nesse trabalho na internet que é o que mais te traz reconhecimento?
Foi minha própria inquietação. Eu até gostaria de ser mais tranquila, mais linear, de conseguir ficar ali, nadando em um mar calmo. Mas quando o mar está muito calmo, eu começo a procurar a arrebentação, sabe? Minha inquietação me impulsiona a não me acomodar e buscar sempre algo novo. Esse é o maior desafio: não deixar as coisas estagnarem, mesmo quando tudo parece bem.
Na internet, o desafio é constante. O ambiente é altamente competitivo e muito medido por números. Isso pode ser frustrante, especialmente porque o meu trabalho é mais denso e específico, atingindo um público menor. Vejo muita gente focada em números massivos, mas, para mim, o importante não são as grandes audiências. Prefiro falar para 10 pessoas que realmente se conectam do que buscar um milhão e perder a conexão genuína. O sucesso online é muitas vezes medido pela quantidade, não pela qualidade, e isso pode ser cruel. É fundamental estar centrada no que você acredita, sem se perder no caminho dos números.
→ O que você diria para alguém que deseja se reinventar, como você já fez?
Eu diria que a reinvenção exige responsabilidade. Se você não tem o privilégio de poder errar, é importante se planejar bem para essa mudança. Isso inclui ter uma reserva financeira, entender as escolhas e ter paciência.
Mudanças não são um capricho momentâneo. Vejo muitas pessoas pulando de galho em galho, mas a verdadeira mudança exige tempo e dedicação.
O trabalho exige dedicação, mesmo quando você ama o que faz. O "ame o seu trabalho" tem uma parte tóxica, porque trabalho é trabalho, e vai ter sempre algo difícil, algo que você não quer fazer ou que não gosta. Tem dias difíceis, tarefas que você não gosta, mas isso faz parte. Eu nunca mudei porque estava insatisfeita, mas porque queria crescer, acrescentar algo novo. A mudança deve ser sobre expansão e não sobre fugir do desconforto.
→ Qual é o seu próximo passo?
Ainda não sei exatamente. Estou encerrando agora o "Insiders", meu encontro presencial, que sempre acreditei ser importante para esse tipo de troca. Esse ano, fiz duas turmas em São Paulo e uma no Rio. Agora, estou com uma versão online, que tem atendido bem a quem não pode estar presencialmente. Curiosamente, o curso online acabou superando os presenciais, pois não há limitação de tempo e posso me aprofundar mais nas conversas.
Agora, meu foco está nas newsletters Amo News e Daily 40's. Isso tem sido muito prazeroso e natural para mim. No momento, quero me dedicar a elas com leveza, sem grandes planos de 5 anos. Também gosto de realizar projetos no corporativo, então vou continuar nesse caminho.
Então, o próximo passo? Não tenho um plano fechado, e também estou aberta a novas possibilidades. O que sinto é que vou continuar criando e me dedicando ao que tem fluído de forma mais natural para mim.
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Adorei ler a história da Ale, que já acompanho desde 2020 e tem uma trajetória inspiradora!
Muito legal conhecer a trajetória da Ale. Sou novo no substack como "Substacker", mas old como escritor e me recordei de jornadas que fiz enquanto ia lendo a trajetória. Acho que nos reconhecemos pelos anos, pela caminhada mais profunda, demorada, de experiências humanas, de descobertas. Que gostoso ler gente que se parece com a gente :) Talvez eu tenha esbarrado com Ale pelos blogs, acho que somos da mesma época. Meu trabalho literário começou nessa região, onde o tempo não importava e a gente ia se lendo devagar. Eu escrevia, durante meses nos líamos, era gostoso e foi muito importante essa velocidade para a construção do desejo pela palavra. Fiquei com essa nostalgia aqui. Parabéns pela entrevista, Pri e Ale