Rafize Santos | Histórias que Inspiram #04
"Eu sou movida pela curiosidade. Ela é a grande bússola da minha vida e eu vou para onde posso sanar essa curiosidade."
Uma vez por mês, eu compartilho histórias inspiradoras de profissionais que se reinventaram na carreira. Seja mudando de atividade, criando um projeto paralelo, ou trabalhando em uma nova carreira, sempre em busca de uma vida equilibrada e com significado. Pegue sua xícara de café e boa leitura!
A personagem da quarta edição do Histórias que Inspiram é uma mulher que "chega chegando". Nos conhecemos apenas pelas janelas do Zoom, mas parece que somos melhores amigas há anos. Na comunidade que fazemos parte, recebemos o título de a turma do fundão.
Rafize Santos tem 33 anos, mora em Curitiba, capital do Paraná. Formada em Filosofia e com Mestrado na mesma área, Rafize também é TEDx Speaker, Palestrante, Arquiteta de aprendizagem e Especialista em treinamento de Lideranças. Atualmente, ela ocupa um cargo no Grupo Boticário como Especialista em Treinamento, mas ela já coordenou cursos de pós-graduação EAD em Inovação e teve uma empresa de mentoria para mulheres.
Nosso papo foi super descontraído e repleto de inspiração. Bora mergulhar na história da Rafize e descobrir que você também pode se reinventar sempre que quiser!
→ Rafize, vou começar pela sua escolha por Filosofia. Você é a única filósofa que eu conheço. Como você decidiu por esse tema?
A Filosofia era a única formação em que eu poderia tirar as dúvidas sobre o que eu tenho curiosidade no mundo. Eu gostava das Ciências Humanas e fiquei em dúvida sobre História, Letras, Ciências Sociais, Direito, Psicologia. Mas eu pensava: “qual é a graduação onde posso estudar a maior quantidade de coisas possíveis que eu tenho curiosidade?” Era a Filosofia que tem disciplinas como Ética, Política, Estética, Teoria do Conhecimento.
A minha experiência de transições de carreira e mudanças passa pela coragem e começou na escolha da Filosofia, pois fui julgada pela minha família. Eles não entendiam o que eu ia fazer da vida. Eu lembro que me questionavam “o que faz uma profissional da Filosofia?”. E eu respondia: “ué, vou dar aulas.” (risos).
→ Você não pensou em recuar e escolher uma graduação que atendesse aos apelos da sua família?
Fiz a inscrição no vestibular escondido dos meus pais (risos). Minha mãe tentou me fazer mudar de ideia, dizia para eu fazer Psicologia, mas eu queria ir mais fundo no conhecimento. Eu entendo o medo deles (iniciei a minha graduação em 2008). Naquela época, o profissional da Filosofia tinha menos visibilidade do que tem hoje. É claro que ainda falta muito para chegar ao ideal, mas nós avançamos e em alguns espaços as pessoas já conseguem valorizar a importância do pensamento crítico para a sociedade.
→ E você foi para a sala de aula?
Eu emendei a graduação com o Mestrado e fui direto dar aulas na universidade. Depois de um ano na sala de aula, fui convidada por outra instituição de Curitiba para assumir um cargo de coordenação, aos 26 anos. O projeto era criar indicadores para mapear os índices da educação à distância. Fiquei nesse grupo de educação por dois anos. Foi lá que recebi um novo desafio: criar e coordenar a primeira pós-graduação em Inovação do Paraná.
Foi uma experiência incrível, mas quando estava tudo estruturado, quando o projeto já rodava sozinho, eu decidi sair.
Eu brinco que sou uma profissional que gosta de entrar em uma empresa para cortar o mato que está bem alto. Quando está tudo bonitinho, que está na hora de começar a plantar as flores, eu dou tchau e vou procurar outro mato alto para cortar (risos).
→ Você saiu da universidade sem ter nada preparado ou tinha outro trabalho engatilhado?
Não tinha nada em vista, mas eu sempre fiz muito freelancer (atividades para outras empresas sem vínculo de trabalho), eu escrevia material didático de Filosofia, redigia questões do Enem. A Filosofia nunca me deixou, é uma parte do meu coração. Eu fiquei nessas atividades paralelas até 2020, junto com a minha empresa de mentoria para mulheres.
→ Foi nessa época que você criou sua empresa de mentoria?
Quando comecei a trabalhar com inovação, eu também comecei a dar muita mentoria para mulheres porque é uma área majoritariamente (como tudo no mundo) ocupada por homens brancos, héteros. Muita coisa mudou desde quando eu comecei, lá em 2016 e 2017, mas ainda existe mais homens do que mulheres nessa área.
Foi nessa época que muitas mulheres começaram a me procurar para pedir dicas de carreira na área de inovação. Eu decidi abrir uma empresa voltada para mentoria para mulheres, a Badass Mentoria que existiu por quatro anos, de 2017 a 2021. Era um Programa de desenvolvimento de carreira para mulheres por meio de mentorias individuais, palestras, cursos, workshops e eventos, justamente pra trabalhar as habilidades do mundo do trabalho para as mulheres na área de inovação.
→ Por que você encerrou a empresa?
Em 2021, a empresa foi atingida pela pandemia. É um processo muito difícil ver os números caindo por conta de uma coisa que você não tem controle. A galera entrou muito num lance de precisar segurar o emprego e eu entendia, pois era absolutamente compreensível o que estava acontecendo no mundo e as pessoas não queriam fazer uma transição de carreira. Essa situação afetou a minha jornada na empresa. Somado a isso, eu colapsei e tive um burnout, em 2021.
→ As suas transições de carreiras foram planejadas? Me parece que tudo acontece de maneira orgânica na sua carreira.
A minha carreira vai em camadas. Eu nunca estou fazendo uma coisa só e isso, pra mim, faz sentido considerando que eu sou uma pessoa muito curiosa, muito criativa. Eu costumo dizer que eu sou um bicho que tem que correr solto.
Essa minha escolha atual, por estar no ambiente corporativo, foi minuciosa. Não dava para ser qualquer empresa. Tinha que ter um perfil bem específico, alguma empresa que permitisse dar espaço a essa flexibilidade, a essa criatividade. Foi muito importante para mim ter esse olhar sincero sobre o que eu realmente quero, o que eu quero aprender. Eu não dou conta de trabalhar numa multinacional tradicional.
Por exemplo: eu tenho uma técnica pessoal e que foi o que me garantiu esse emprego no Grupo Boticário, que é fazer o meu Mapa de Parcerias.
→ Como é esse Mapa de Parcerias?
É uma técnica muito simples. Você coloca o seu nome no meio de uma folha e vai fazendo uma árvore dos contatos que você tem. E esse contato ele pode abrir outro, que abre outro contato e assim por diante. Eu coloco o tamanho do contato de acordo com a relação se é mais próximo ou não. Com esse mapa pronto, eu procuro as pessoas para marcar cafezinhos e contar o que estou fazendo e se posso contribuir com algum projeto. Eu faço essa gestão contínua dos meus contatos e não economizo nos cafezinhos. É um investimento, mas eu sei que funciona. Hoje, eu estou no Boticário, mas eu sigo tomando café com as pessoas.
A gente precisa assumir a caneta da nossa própria história, da nossa própria carreira.
→ Como foi a sua transição mais recente para o Grupo Boticário?
Na verdade, a minha ida para o Boticário surgiu de um desses cafezinhos. Tive contato com a minha atual gestora na época que eu estava na Hümans at Work, uma consultoria que fui sócia por três anos. Pedi para encontrar com ela, contei minhas aprendizagens desde a última vez que nos falamos e disse que estava aberta para oportunidades. Foi muito legal porque eu não tinha nenhuma relação pessoal com ela, apenas profissional. Nós agendamos uma entrevista, fiz o processo, deu match com o que eu queria e o que eles precisavam e estou lá desde junho deste ano. É isso, foi um cafezinho que me levou a vários projetos legais.
→ Qual é seu papel no Grupo Boticário?
Está muito ligada com a Aprendizagem. As pessoas me perguntam porque eu fui trabalhar no Boticário esperando uma resposta padrão e eu sempre digo: “é porque eu tenho curiosidade!”
Minha “cadeira” na empresa está muito relacionada a conversar com as lideranças nas lojas. Mais de 500 franqueados e mais de 1,5 mil lojas pelo país. Adoro facilitar conversas, de contribuir com a aprendizagem. No Boticário, eu poderia utilizar toda a minha expertise em facilitação de conversa, de mediar conversas difíceis, tudo o que aprendi com orientação a resultados. Olhando as minhas grandes referências em desenvolvimento humano, todas elas passaram por uma experiência em uma grande empresa. Eu entendi que tinha chegado a minha hora de fazer essa experiência.
Mais do que dar bola pra termômetros e opiniões pessoais, eu procuro consultar a mim mesma e me perguntar: o que estou precisando aprender agora? Que pecinha está faltando no meu currículo?
→ Depois de mais de uma década de trabalho, como que seus pais te enxergam, daquela Rafize que escolheu fazer Filosofia lá em 2008 até hoje?
Eles falam para aqueles pais que estão preocupados com as escolhas dos filhos, que é para deixar que eles decidam. É uma mudança de mentalidade muito grande na minha família. Hoje, eles vêm com muito orgulho. A minha mãe diz que não imaginava que um profissional de filosofia poderia trabalhar da forma que eu trabalho hoje.
→ Para a gente encerrar, o que você diria para quem está lendo esta entrevista e que está em dúvida sobre mudar ou não de carreira?
A sua curiosidade e a sua intuição são lugares seguros e você pode dar espaço para elas nas suas decisões profissionais Elas merecem esse espaço e essa atenção.
Quer se conectar com a Rafize?
📋 LinkedIn: https://www.linkedin.com/in/rafize-santos-709000163
📹 TEDx: “A resposta para os desafios do século XXI”
Gostou da história da Rafize? Encaminha para quem precisa se inspirar para fazer uma transição de carreira ou incluir uma nova carreira no dia a dia.
Se você souber de alguém que tem uma história interessante para contar, responde este e-mail ou escreve pra mim: priscila@pritescaro.com.br
Um beijo e até o próximo mês com mais uma edição do Histórias que Inspiram.
Pri Tescaro