Fê Pandolfi | Histórias que Inspiram #01
Ninguém sabe direito o que eu faço. Ninguém. Tipo, ninguém.
Uma vez por mês, eu compartilho histórias inspiradoras de profissionais que se reinventaram na carreira. Seja mudando de atividade, criando um projeto paralelo, ou trabalhando em uma nova carreira, sempre em busca de uma vida equilibrada e com significado. Pegue sua xícara de café e boa leitura!
“Ninguém sabe direito o que eu faço. Ninguém. Tipo, ninguém. Eu há pouco não sabia. Criei um problema pros familiares: com o que a Fernanda trabalha, afinal? Ah, então… uma coisa meio marketing e meio mídias sociais e meio jornalismo e meio professora… sabe? Não. Não sei. Daí, eu também comecei a ter dúvidas ao explicar: o que tu quer ouvir de mim, afinal? Adaptava o discurso conforme o interessado, encontrando a maneira de ser útil. Percebi que o que confundia tudo e todos era a minha falta de convicção e aceitação sobre o que eu fazia. Meu diploma, que me legitima, é de jornalista. Meu crachá, que me assegura, é de professora. E o que é meu que não vem dos outros?
Há pouco, pouco tempo, entendi que não existe faculdade para se tornar escritor e que vinha dessa falta de comprovação o meu disfarce. Então, não teria jeito: eu precisaria fazer um diploma imaginário e um crachá de sucata que me autovalidasse para ver se alguém me contratava lendo. Ao assumir o que eu faço, fiz o que amo.
Então, deixa eu te contar o que eu faço: eu escrevo. Escrevo para o meu Instagram. Escrevo uma newsletter. Escrevo para uma revista. Escrevo livros. Escrevo roteiros de vídeo. Escrevo entrevistas. Escrevo manifestos. Escrevo para ti. Escrevo por ti. Escrevo para mim. E ensino a escrever histórias - como professora de storytelling. Tudo passa pela minha escrita.
O que a Fernanda faz mesmo? Ela escreve. Ufa. Acho que resolvemos.”
Ela escreve!
Esse trecho acima foi o que me chamou a atenção quando encontrei o post da
no Instagram, quando ela assume o que faz para viver e sobreviver: escrever. Meus olhos brilharam e repostei a publicação no meu perfil com a seguinte frase: a Fê Pandolfi, sem querer, definiu as palavras dela, o que é ser uma profissional Carreiras Múltiplas.Já escrevi algumas vezes sobre o estilo de vida Carreiras Múltiplas e o quanto esse perfil de profissional estará cada vez mais presente no mercado de trabalho. Quando eu decidi criar esta edição especial da News Carreiras Múltiplas foi com o intuito de contar histórias de profissionais que adotaram esse jeito de viver, de maneira planejada ou não, para inspirar outras pessoas que estão indecisas se devem seguir por um caminho diferente, se devem iniciar uma nova trajetória profissional. Em outras palavras: eu quero que estas histórias possam lhe ajudar a repensar sua carreira e lhe encorajar a dar o próximo passo para uma carreira com significado.
A convidada da edição especial da newsletter é a escritora, jornalista, roteirista e influenciadora, Fernanda Pandolfi, uma gaúcha de 35 anos. Espero que gostem, porque eu adorei conversar com a Fê!
→ Fê, conta um pouco da sua trajetória profissional. Você atuou na Zero Hora (ZH) por seis anos e teve passagem por diversas editorias, né?
Me formei em jornalismo em 2010 porque sempre gostei de ler e escrever. Pra mim, a maneira mais fácil de me aproximar dessas paixões era fazer faculdade de jornalismo. Não existe, no Brasil, uma faculdade que dê o diploma de escritor.
Comecei a trabalhar na ZH ainda durante a faculdade e fiquei lá por seis anos, passando por quase todas as editorias: política, esporte, geral, atuando em áreas diferentes. Eu tinha o objetivo de trabalhar na Revista Donna (caderno de variedade publicado aos domingos) porque entendia que ali era o espaço que poderia fazer grandes reportagens, que era o que eu queria. Depois de quatro meses como editora online no Donna, fui convidada para escrever a nova coluna social do jornal. Na época, eu tinha 25 anos e abracei a ideia. E foi muito bom, pois escrevia oito colunas semanais, entre elas uma na Revista Donna, também tinha participações semanais em programas de rádio e tv do Grupo RBS, apresentava uma websérie para o site do jornal, além de planejar, organizar e realizar eventos. Fiquei três anos à frente da coluna social e de todos os outros produtos. Mas eu não estava escrevendo como gostaria, como desejava. Até que essa conta começou a pesar. Ainda tentei me recolocar lá dentro, mas não rolou. Foi quando eu pedi pra sair.
→ Pediu demissão sem saber o que iria fazer?
Sim! Era 2016 e o Instagram estava surgindo como rede para além do social, como oportunidade de trabalho. Fiz algumas pesquisas e decidi criar o Ida e Volta que é o meu projeto de viagens. Decidi tirar um ano sabático para dar a volta ao mundo e contar essas histórias em uma plataforma de viagens, que era a ideia original. Na época, eu pensava que a única maneira de monetizar esse projeto era com anúncios no site. Foi quando começou a despontar a publicidade no Instagram. O Ida e Volta aconteceu por meio desse formato e eu produzia os conteúdos para o perfil.
→ Como foi o desenvolvimento dessa nova carreira de viajante que conta histórias?
A ideia original do Ida e Volta não tinha a volta ao mundo como objetivo. Ela surgiu seis meses depois, quando aumentou o engajamento no perfil e percebi que podia ganhar dinheiro produzindo conteúdos para marcas. Aqui surgiu a necessidade de desenvolver meu lado comercial, que eu acho que sempre existiu, mas não andava ao lado do jornalismo. Durante toda a viagem nunca deixei de produzir conteúdo e o resultado final era voltar ao Brasil, escrever e publicar um livro, junto com uma rodada de palestras para contar sobre a experiência.
→ Como foi a volta ao Brasil?
Quando voltei da viagem em 2018, fui convidada pela RBS para assumir a área de branded content (produção de conteúdos específicos para marcas). Eles queriam uma pessoa que fizesse a interlocução entre a redação e a área comercial. Lembro que eu disse que não sabia fazer isso e eles pediram para eu fazer o mesmo que tinha feito com o Ida e Volta nos últimos meses. Percebi que desenvolvi essa habilidade por necessidade, mas acredito que ela começou a se destacar ainda quando estava à frente da Rede Social, quando transformei esse projeto em um produto para a empresa.
→ Você abriu mão do Ida e Volta?
Não, esse foi um acordo que fiz com a empresa que manteria o Ida e Volta, pois era o meu projeto que tinha trabalhado nos últimos meses e não queria abrir mão. Consegui um espaço na Revista Donna e voltei a escrever, desta vez sobre viagens em uma página com o mesmo nome do projeto, além de manter o trabalho no perfil do Instagram. E aí surgiu uma nova oportunidade. Fui convidada para dar aulas na Uniritter. Confesso que eu pensei não aguento mais aprender sobre universos novos.. hehehe. Mas eu tenho essa característica que é, se a pessoa tá apontando que eu tenho capacidade para fazer tal coisa, vou lá e quero saber como funciona, se pode dar certo.
→ Quanto tempo você ficou atuando em três carreiras: responsável pelo branded content da RBS, idealizadora do Ida e Volta e professora na Uniritter?
Fiquei um ano entre essas carreiras até o momento que a RBS pediu exclusividade para o trabalho e decidi não continuar. A conta não ia fechar de novo. Eu demorei um tempo para organizar o que eu fazia até chegar aos dias de hoje. Deixei a RBS em 2018 e quando começou a engrenar veio a pandemia. Não tinha conseguido entender o que poderia fazer e como fazer.
→ Hoje, quais são as identidades profissionais da Fê Pandolfi?
Sou escritora e é a escrita que me liga a todos os outros pontos. Também sou jornalista, sou roteirista, sou professora e sou influenciadora.
→ Seu post no Instagram que citei no início desta entrevista fala sobre a dificuldade que as pessoas têm em definir o que você faz. Nesse texto você se definiu como escritora. Como chegou a essa conclusão?
Lancei meu livro cinco anos depois que voltei a Porto Alegre. Eu amei todo o processo e entendi que é isso (escrever) que quero fazer. Se me dissessem amanhã, larga tudo e vem trabalhar em uma editora para escrever dois, três livros por ano, eu largaria tudo para viver dessa forma.
Identifiquei que era isso que eu queria, ser escritora, mas isso não paga as minhas contas. então, eu preciso achar meios para que as pessoas me enxerguem como escritora para ir validando isso e eu chegar onde quero chegar, que é ser escritora, de maneira sustentável financeiramente e sem me desconectar desse lado.
No final de 2022 eu entendi que precisava organizar essa bagunça. Nem a minha mãe sabia o que eu fazia. Quando perguntei, ela disse ah, você dá umas aulas, você escreve… ah, não sei. Foi quando eu decidi que queria que as pessoas entendessem que a escrita me conectava com os outros pontos. A partir da escrita eu vou realizar o meu trabalho: seja como influenciadora, seja dando aulas, seja roteirizando, mas eu quero que as pessoas me enxerguem como escritora. Escrevi o texto no Instagram para as pessoas entenderem que tudo passa pela minha escrita. Que eu sou uma escritora que escreve roteiros para webséries, ghost writers para algumas pessoas, tenho a minha newsletter, clube do livro…. pensar em construir maneiras para chegar onde tu quer, que é um lugar mais estático.
→ O que você diria para quem ler este texto e está com dúvidas sobre mudar ou não de carreira?
Costumo dizer que agir é muito mais fácil que decidir. A decisão é o processo mais difícil. Para eu pedir demissão da ZH foi muito doloroso. A coragem é uma palavra que faz parte dos meus valores, está no topo. A gente precisa agir com o coração para conseguir realizar aquilo que quer. E para ter coragem nós precisamos olhar e ver aquilo em que somos bons. Todo mundo tem alguma coisa que é seu diferencial. O que eu faço me tornar ímpar, poderia me tornar único? Quando identifica, você consegue desenvolvê-la, testar como um diferencial e aí fazer o planejamento para sair desse lugar que você está infeliz. Acho que uma coisa bem importante para quem é múltiplo é testar muitas coisas. Eu sei que tem coisas que eu não funciono, mas só sei disso porque eu testei.
Precisamos abrir janelas na mente, no coração, na agenda para conseguir que coisas novas entrem, se não vamos seguir no mesmo lugar, preso naquela condição que nós estamos.
Gostou da história da Fê? Encaminha para quem precisa se inspirar para fazer uma transição de carreira ou incluir uma nova carreira no dia a dia.
Se você souber de alguém que tem uma história interessante para contar, responde este e-mail ou escreve pra mim: priscila@pritescaro.com.br
Um beijo e até o próximo mês com mais uma Histórias que Inspiram.
Com carinho,
Pri Tescaro
quando li "“Ninguém sabe direito o que eu faço. Ninguém. Tipo, ninguém. Eu há pouco não sabia." já fiquei presa no texto e na conversa, porque é exatamente assim que eu me sinto. ou me sentia. porque tenho cada vez mais me apropriado (e enfiado nessa cabecinha dura) da ideia de que sou uma pessoa que escreve. inclusive tenho feito ajustes na rota considerando esse "posicionamento" (entre aspas pq, na verdade, é algo que sempre esteve aqui, mas que agora eu tô batendo pé). obrigada, gurias, pelo texto!
Adorei, Pri! Obrigada pelo teu espaço e por compartilhar minha história :)