Coerência revisitada: quando mudar também faz sentido
#09 | Mudar não é trair quem fomos, é honrar quem estamos nos tornando.
Em Due Tramonti, Rodrigo Cotrim de Carvalho nos convida a refletir sobre as ambivalências da carreira e da vida, explorando temas que nos afetam a partir de múltiplas perspectivas. Ele compartilha suas observações de deslocamentos e diálogos, cultivando novos olhares sobre nossas jornadas profissionais e pessoais.

Oi!
Lá no começo da minha jornada aqui na Carreiras Múltiplas, falamos sobre coerência. Discutimos como ela pode ser uma aliada poderosa na construção da nossa identidade e também como, em excesso, pode nos prender a caminhos que já não fazem mais sentido. Hoje, quero retomar esse assunto sob outra perspectiva: como lidar com a tensão entre ser coerente com quem fomos e abraçar as mudanças inevitáveis da vida e da carreira.
Se tem algo que a migração ensina — seja de país, de carreira ou de mentalidade — é que coerência e mudança não precisam ser opostos. E que, muitas vezes, crescer exige abrir mão de versões passadas de nós mesmos.
#01 - até que ponto insistir?
A gente se acostuma a pensar que ser coerente é seguir uma linha reta. Mas e quando essa linha começa a nos sufocar? Quando uma escolha que fazia sentido lá atrás já não reflete mais quem somos hoje?
F. Scott Fitzgerald escreveu que "o teste de uma inteligência de primeira classe é a capacidade de manter duas ideias opostas na mente ao mesmo tempo, e ainda assim reter a capacidade de funcionar." E eu acho que essa frase se aplica perfeitamente ao que sentimos quando estamos diante de mudanças importantes: de um lado, o desejo de ser fiel à nossa trajetória; do outro, a necessidade de seguir por um novo caminho.
Para quem migra, essa tensão entre passado e presente é ainda mais intensa. Você chega a um novo país com uma bagagem: sua profissão, seu idioma, seus hábitos, sua visão de mundo. Mas, pouco a pouco, percebe que nem tudo se encaixa na nova realidade. Talvez a profissão precise mudar, talvez a língua traga barreiras inesperadas, talvez o que fazia sentido no seu país de origem já não funcione no atual contexto.
O problema? Muitas vezes, ficamos presos à ideia de que mudar significaria uma “incoerência” com quem éramos. Que aceitar um trabalho fora da nossa área seria um retrocesso. Que abrir mão de um plano antigo seria uma desistência. Mas será que insistir no que não nos cabe mais é realmente um ato de coerência?
#02 - mudar também pode ser coerente
O dilema da coerência aparece muito na migração porque envolve identidade. Em algum momento, todo migrante passa por perguntas como: Quem eu sou neste novo lugar? Quanto do meu "eu" anterior devo preservar? O que preciso flexibilizar para continuar crescendo?
A escritora Amin Maalouf, no livro As Identidades Assassinas, fala sobre como nossas identidades são compostas por múltiplas camadas e que tentar manter uma única versão de si mesmo em qualquer circunstância pode ser um erro. Ele argumenta que identidade não é algo fixo, mas sim um processo de transformação contínuo. E isso vale também para nossas carreiras e escolhas profissionais.
O que antes parecia contraditório – manter a essência e, ao mesmo tempo, permitir-se mudar – pode ser, na verdade, um equilíbrio saudável.
A mudança não precisa ser vista como uma traição ao que fomos, mas como um desdobramento natural do nosso crescimento.
Isso vale especialmente para quem tem carreiras múltiplas, trajetórias não lineares e está sempre explorando novas possibilidades. Quanto mais nos movimentamos, mais percebemos que a coerência não está em nunca mudar, mas em seguir alinhados com aquilo que faz sentido para nós agora.
#03 - e você, o que pensa sobre isso?
Eu sei que não é fácil desapegar de velhas versões de nós mesmos. Às vezes, ficamos presos ao que as pessoas esperam da gente. Outras vezes, nós mesmos resistimos, com medo de parecer que estamos jogando fora tudo o que construímos.
Mas será que existe uma maneira de honrar quem fomos, sem nos prender a uma versão fixa de nós mesmos?
Se esse tema ressoou em você, te convido a ouvir o episódio mais recente do Due Tramonti. Lá, falo mais sobre essa relação entre coerência e mudança, e como podemos navegar melhor essas transições na vida, especialmente quando essas transições envolvem cruzar fronteiras, físicas ou simbólicas.
E me conta: você já se viu presa/o a uma escolha por medo de parecer incoerente? Como lida com isso?
Até breve!
“As opiniões expressas pelos colunistas são de inteira responsabilidade de seus autores e não refletem, necessariamente, a opinião da Carreiras Múltiplas.”
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