Solidão conectada: desafios emocionais do trabalho remoto
#08 | Estratégias para enfrentar a desconexão no trabalho remoto
Em Due Tramonti, Rodrigo Cotrim de Carvalho nos convida a refletir sobre as ambivalências da carreira e da vida, explorando temas que nos afetam a partir de múltiplas perspectivas. Ele compartilha suas observações de deslocamentos e diálogos, cultivando novos olhares sobre nossas jornadas profissionais e pessoais.

Oi!
Antes de tudo, feliz 2025. Que este ano, apesar das turbulências que se anunciam, seja fértil, próspero e cheio de boas surpresas.
Se você, assim como eu, trabalha remotamente, é provável que já tenha se deparado com um desafio silencioso, mas poderoso: a solidão. Desde que comecei no home office, lá em 2010, encarei a solidão como uma espécie de custo implícito desse estilo de trabalho. Mas foi apenas com a pandemia — e a consequente ampliação do isolamento social — que ela realmente bateu à porta, com força e sem aviso.
O curioso é que a solidão no home office nem sempre parece óbvia. Estamos sempre conectados: mensagens instantâneas, chamadas de vídeo, reuniões remotas e redes sociais. Porém, por trás dessa conectividade superficial, muitas vezes nos sentimos desconectados de verdade. É como se faltasse profundidade, calor humano, o contato que só uma conversa cara a cara consegue proporcionar.
Hoje, quero explorar com você o impacto emocional dessa desconexão e, quem sabe, compartilhar ideias e estratégias para tornar o trabalho remoto mais leve e humanizado.
#01 - Entre a solidão e a conectividade superficial
No início, confesso que não notei o peso da solidão. Afinal, estar em casa, no meu espaço, parecia um privilégio. Mas com o passar dos anos, percebi que a ausência de interações espontâneas fazia mais falta do que eu imaginava — apesar de seguir não sentindo falta daquelas conversas casuais no corredor ou do cafezinho na copa da empresa. :)
Desde a pandemia, a solidão só se intensificou pra mim. Além do isolamento físico, a comunicação digital com equipes diferentes através de múltiplos canais, agendas apertadas e diferenças de fuso tornou a minha presença online ainda mais mecânica e dispersa. Menos espaço para conversas autênticas, mais notificações para gerenciar e aquela sensação constante de que estou sempre “ligado”, mas nunca realmente conectado (ou ainda focado).
E isso tem um impacto. A solidão no home office vai além da sensação de isolamento; ela afeta a saúde emocional, a criatividade e até mesmo a produtividade. Quando a desconexão toma conta, é fácil cair em um ciclo de desmotivação, procrastinação e até mesmo esgotamento — físico e mental.
#02 - Conexões significativas: por onde (re)começar?
Se tem algo que aprendi nesses anos todos é que construir conexões significativas no trabalho remoto exige esforço intencional. Não é algo que acontece espontaneamente, como em um ambiente de escritório. E está tudo bem. Mas exige ação.
Aqui estão algumas estratégias que venho experimentando:
Interações intencionais: Passei a agendar conversas regulares, mesmo que curtas, com colegas e amigos. Um café virtual ou até uma ligação sem uma pauta definida. Essas interações me ajudam a criar um senso de proximidade, mesmo a quilômetros de distância.
Comunidades online: Recentemente, entrei em grupos e atividades específicas sobre temas que me interessam e que ajudam no meu trabalho. Essas comunidades, quando bem escolhidas, são ótimos espaços para trocar ideias, aprender e até fazer amizades.
Espaço para conversas humanas em reuniões: Sempre que posso, reservo momentos de uma reunião para perguntar como os outros estão, trocar ideias fora do tema principal. Pode parecer trivial, mas me ajuda a fortalecer os laços com as pessoas e reduz aquela sensação chata de distância.
#03 - A importância de saídas estratégicas
Ainda que trabalhar de casa tenha suas vantagens, passar longos períodos isolado pode ser exaustivo. É aí que entram as saídas estratégicas: momentos em que você sai de casa, reconecta com o mundo lá fora e cria oportunidades para interações mais humanas.
Eu, por exemplo, recebi essas dicas recentemente, conversando com duas amigas que trabalham majoritariamente em suas casas (uma delas é migrante também):
Coworkings: Mesmo que não vá todos os dias, trabalhar em um coworking uma ou duas vezes por semana pode ser revigorante. O simples fato de estar em um ambiente com outras pessoas já traz um senso de comunidade e estímulos sensoriais importantes.
Almoços presenciais: Sempre que possível, marque almoços com amigos ou colegas da área. Não precisa ter uma “razão” profissional. Só o ato de compartilhar uma refeição com alguém já reduz o peso da solidão e amplia sua circulação pela cidade.
Eventos e workshops: Participar de eventos presenciais é outra forma de se reconectar com pessoas e, de quebra, expandir sua rede de contatos. Pode ser uma palestra, uma oficina criativa ou até um curso.
Ainda não consegui implementar essas dicas com regularidade. Talvez pela minha condição migrante e profissional, ainda estou experimentando desafios de outras ordens e evito me forçar a sair de casa quando não é necessário. Mas as dicas são ótimas, funcionam para pessoas próximas e eu pretendo colocá-las em prática dentro da minha realidade.
#04 - Respeitar o ritmo e as necessidades individuais
Claro, nem todos os dias são fáceis. Existem momentos em que a desconexão parece maior e as soluções parecem distantes. E tudo bem. Aprendi que, nesses dias, o mais importante é respeitar meu tempo e ser gentil comigo mesmo.
Às vezes, a solidão no home office é um convite para olhar para dentro. Para reavaliar o que estamos fazendo e como podemos nos cuidar melhor.
Estar só não precisa ser sinônimo de sentir-se solitário, mas, para isso, precisamos criar pontes — com os outros e principalmente com nós mesmos.
Nestes momentos, eu paro, me alongo, ponho músicas que gosto de ouvir, bato um bolo, beijo meus gatos, gravo áudios para pessoas que amo sobre assuntos aleatórios ou filosófico-existenciais, tomo um banho quente e demorado, vejo um conteúdo leve pra me distrair. Enfim, me acolho e respeito a necessidade de respirar outras coisas por algum momento.
#05 - O desafio de equilibrar independência e conexão
Trabalhar remotamente é, ao mesmo tempo, libertador e desafiador. É uma dança constante entre aproveitar a independência e buscar formas de se conectar com o mundo ao redor.
No fim das contas, o equilíbrio está em encontrar aquilo que faz sentido para você. É sobre criar sua própria rede de apoio, buscar espaços onde você se sinta pertencente e lembrar que a solidão é, em parte, uma experiência compartilhada. Você não está sozinha/o nessa.
Agora quero ‘ouvir’ de você, mas pra isso preciso que você me escreva: como lida com a solidão no home office? Tem estratégias que gostaria de compartilhar? Vamos continuar essa conversa e, quem sabe, criar juntos um espaço onde o trabalho remoto seja mais conectado e humano.
Inté!
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