Home Office: trabalhar em casa ou morar no trabalho?
#06 | Reflexões após mais de uma década de trabalho remoto
Em Due Tramonti, Rodrigo Cotrim de Carvalho nos convida a refletir sobre as ambivalências da carreira e da vida, explorando temas que nos afetam a partir de múltiplas perspectivas. Ele compartilha suas observações de deslocamentos e diálogos, cultivando novos olhares sobre nossas jornadas profissionais e pessoais.
Oi!
Não sou exatamente um especialista técnico em home office, mas com certeza tenho uma boa bagagem no assunto. Desde 2010, trabalho em casa por escolha própria, muito antes da pandemia trazer essa prática para o cotidiano de tantas pessoas. O que a pandemia fez, no entanto, foi transformar e provocar uma nova visão sobre o que significa estar nesse ambiente dia após dia. Ela eliminou alguns "respiros" da rotina e trouxe à tona novos desafios, especialmente para quem, como eu, agora vive em outro país e tem o trabalho remoto como única opção viável.
Então, o que trago hoje é uma espécie de "carta de intenção" para uma série de reflexões sobre o home office. São questões que venho amadurecendo comigo mesmo e que, acredito, precisam de uma atenção renovada. Não sei exatamente onde essas reflexões vão me levar, mas sei que há coisas que já não funcionam para mim e que essas mudanças são urgentes. Nesta e nas próximas colunas, quero abrir espaço para discutir o lado bom, o lado difícil e o que fica no meio do caminho quando se escolhe — ou se é empurrado para — o trabalho remoto. Espero não falar sozinho, vem comigo?
A evolução do home office: escolha pessoal e percepção social.
Desde o início, o home office foi uma escolha pessoal e quase libertadora para mim. Poder definir meus horários e administrar a carga de trabalho de forma mais flexível me permitiu encaixar atividades essenciais, como idas ao médico, exercícios, cursos e até encontros casuais. Nos anos pré-pandemia, entre 2010 e 2020, minha rotina era uma mistura de dias em casa e outros me deslocando para reuniões e eventos. Havia uma sensação de controle sobre minha agenda e meu ambiente. Mas com a pandemia e a migração para outro país, o home office deixou de ser uma escolha e se transformou em uma necessidade. A liberdade inicial deu lugar a uma rotina que, por vezes, sinto aprisionante.
Hoje, sinto que minha escolha de trabalhar de casa ainda não é totalmente respeitada. Pessoas próximas e parceiras de trabalho parecem interpretar minha presença em casa como uma disponibilidade permanente. Mas reconheço que uma boa parte disso é culpa minha. Eu mesmo nunca defini limites claros, o que tem me levado a situações de interrupção constantes e à sensação de que meu espaço é invadido. Talvez, no fundo, eu precise aprender a impor esses limites — um tema que, certamente, vou abordar mais profundamente nas próximas colunas.
Autonomia e autocuidado: benefícios e desafios de trabalhar e viver no mesmo espaço
Gosto de poder ajustar minha produtividade de acordo com meu próprio ritmo. Há dias em que sou uma máquina, produzo por horas e sinto que posso conquistar qualquer coisa. Em outros, a preguiça e a procrastinação dominam, e meu rendimento cai. Essa variação é normal e o home office permite que eu respeite esse fluxo, algo que considero um dos maiores benefícios dessa modalidade.
Meu ambiente também é um reflexo constante de quem sou. Gosto de cuidar do espaço, mudando móveis de lugar, acrescentando plantas, ajustando cores, testando novos ângulos, principalmente de entrada de luz natural. É como se o espaço acompanhasse meu estado de espírito. E claro, conforto é essencial: roupas macias, cadeira ergonômica, luz ideal (quando a natural atrapalha, a artificial entra na medida do conforto e da necessidade), tudo isso é parte do meu ritual. A privacidade é outro ponto fundamental; preciso de silêncio e de um ambiente meu para pensar e criar.
Essas pequenas pausas ao longo do dia — uma fome repentina, um café fresquinho, o carinho dos meus bichos — são momentos que tornam o meu trabalho em casa mais humano. E isso é parte da minha personalidade e como me coloco no mundo. E, sinceramente, não sinto falta da “small talk” do escritório ou daquele canto da fofoca. Esse tipo de interação, por mais comum que seja, não faz parte do que busco na minha rotina. Pelo contrário, amo a privacidade de estar em meu próprio espaço, livre para seguir o fluxo do meu dia, minhas ideias e interações.
Mas claro, há os desafios. Embora adore a flexibilidade, me vejo muitas vezes sem conseguir impor limites de tempo e, pior, me deixo ser invadido pelos ruídos da obra ao lado, pelo movimento da rua e pelas demandas que aparecem sem avisar. Tenho me questionado cada vez mais sobre meu autocuidado dentro desse contexto. Ando falhando nesse aspecto e preciso reverter isso — mas ainda estou descobrindo onde peco mais e o que devo fazer pra não me sabotar neste lugar, em nome da ‘produtividade’.
O que vem a seguir?
Não sei ao certo ainda. Vou descobrir e volto aqui pra compartilhar. Mas penso em alguns tópicos como: como equilibrar a autonomia e a responsabilidade, como impor limites e respeitar os próprios ritmos, como lidar com a solidão do trabalho remoto e a desconexão que veio com a pandemia. Pretendo compartilhar o que venho aprendendo e observando, as práticas que têm me ajudado a contornar alguns destes desafios e as mudanças que ainda sinto que preciso fazer para que o home office siga sendo uma escolha positiva.
Então, se você também sente que o trabalho de casa é uma experiência de altos e baixos, com liberdades e prisões, te convido a acompanhar essa série. Juntos, vamos questionar e ressignificar o que é viver e trabalhar em um mesmo espaço.
Inté!
“As opiniões expressas pelos colunistas são de inteira responsabilidade de seus autores e não refletem, necessariamente, a opinião da Carreiras Múltiplas.”
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