Às vezes, a gente adoece tentando dar conta de tudo
Esse texto nasceu da vontade de colocar em palavras o que por muito tempo eu engoli em silêncio. Se você anda cansada demais, talvez ele também seja pra você.

Oi!
Escrever o texto da edição #81 - Eu só percebi que estava doente quando meu marido ofereceu pedir demissão por mim desta newsletter foi como abrir uma janela que ficou anos fechada. A luz entrou com força — e trouxe com ela a poeira, o cheiro de coisa antiga, a dor esquecida e, junto, uma brisa de alívio.
O gatilho veio de uma conversa com uma mulher que vai iniciar um processo de mentoria comigo. Ela está enfrentando crises de ansiedade, depressão e, com orientação da terapeuta, resolveu repensar a carreira. Enquanto ela falava, eu me vi ali, quase 15 anos atrás.
A diferença?
Naquela época, eu não tinha consciência do que estava acontecendo comigo. Nem sabia que existiam profissionais que podiam me ajudar.
Aquela história ficou adormecida dentro de mim por anos. Eu passei muito tempo tentando varrer esse episódio pra debaixo do tapete — como se esconder fosse me proteger da dor. Mas dessa vez, alguma coisa me disse:
“Você precisa contar.”
O processo de escrita não foi leve. Relembrar aquele período me machuca. Até hoje me sinto desconfortável ao passar na frente do prédio onde eu trabalhava.
A Carol Milters, numa das entrevistas pro Histórias que Inspiram, falou que quando passou pelo primeiro burnout, sentia uma espécie de paralisia só de pensar em reencontrar ex-colegas. Ela mudou de país. Eu mudei de pele.
Enquanto escrevia, um trecho específico me atravessou:
“Se você não pedir demissão, eu peço por você.”
Foi o que meu marido me disse naquele momento — e ele lembra até hoje do exato dia em que falou essa frase.
Foi uma tentativa de me acordar, de me resgatar de uma rotina que estava me adoecendo e que eu já não conseguia enxergar.
E ele escreveu, depois de ler o texto:
“Com a convivência diária e a parceria que existe entre nós, é fácil perceber nos pequenos detalhes quando alguma coisa está fora do lugar. Naquela época, era claro que o problema vinha da parte profissional, até porque não foram poucas as vezes em que tu voltasse pra casa extremamente infeliz e isso me afetava sobremaneira, a ponto de eu buscar uma solução.”
Ler isso foi como reviver tudo. Mas também foi um lembrete: eu tive alguém que me estendeu a mão quando eu já não tinha forças pra levantar.
Demorei dias pra apertar o botão “publicar”.
Como jornalista e mentora de carreiras, ainda me pego com a síndrome do “preciso parecer competente o tempo todo”. Como se contar esse episódio fosse assinar um atestado de fracasso.
Mas aprendi — e continuo aprendendo — que vulnerabilidade não é fraqueza.
É coragem com nome, sobrenome e boletos pagos.
O que mais me emocionou foram as mensagens que recebi depois da publicação.
Uma delas, da Aline Postigo, me desmontou:
Essa frase dela me acompanhou por dias:
“Eu não conseguia girar a maçaneta.”
Quanta gente está nessa mesma sala escura, achando que está trancada, quando na verdade só falta um toque de coragem pra sair?
Hoje, com o texto no mundo, eu me sinto em paz.
Mais do que isso: sinto que cumpri o que Taís Araújo definiu lindamente como missão — ver que o nosso trabalho transforma pessoas.
Esse texto me lembrou que sou, sim, uma escritora. Que minhas palavras podem alcançar quem está no fundo do poço e acender uma lanterninha.
Quando escrevo com essa sinceridade, aparece a Pri mais real que existe.
Aquela que já tentou parecer forte demais. Que já ignorou seus próprios limites. Que silenciou sua dor por medo de parecer fraca.
Mas agora, eu escolho escrever pra abraçar.
Pra lembrar que mesmo nas nossas piores fases, a gente pode abrir uma fresta.
E deixar a luz entrar.
Posts relacionados:
Tem dias em que o coração fica barulhento demais por dentro, e tudo o que a gente precisa é de um cantinho silencioso — ou de uma música que saiba traduzir o que a gente nem consegue dizer em voz alta. Essa playlist é pra te acompanhar quando o mundo estiver rápido demais, quando o corpo pedir colo ou quando você sentir que precisa se reencontrar.
Dá o play, respira fundo e deixa que ela cuide de você por uns minutos. Você merece. 🧡
Considere migrar para a versão premium da news Carreiras Múltiplas. Você vai ter acesso a edições extras, a série Estratégias de Carreira, ao conteúdos exclusivos do Guia de Ação da Carreira, além dos textos com reflexões sobre carreira, autodesenvolvimento, rotinas sustentáveis e como criar um ambiente de trabalho equilibrado.
Ler isso dá uma esperança!! Mesmo que a fonte do esgotamento não tenha sido originalmente o trabalho. É difícil, nem todos tem a sorte de um apoio como o que você teve, mas seus relatos ajudam a ter força pra continuar tentando girar a maçaneta - seja de onde for. Obrigada.