A busca por sentido no trabalho: um caminho ou uma pressão?
#10 | Talvez o equilíbrio esteja em fazer as pazes com a impermanência do sentido do trabalho.
Em Due Tramonti, Rodrigo Cotrim de Carvalho nos convida a refletir sobre as ambivalências da carreira e da vida, explorando temas que nos afetam a partir de múltiplas perspectivas. Ele compartilha suas observações de deslocamentos e diálogos, cultivando novos olhares sobre nossas jornadas profissionais e pessoais.
Oi!
O que faz um trabalho ter sentido? Para alguns, é o impacto que causam no mundo. Para outros, é a liberdade de criar, a estabilidade financeira ou simplesmente o prazer naquilo que fazem. Mas será que o sentido do trabalho é algo que encontramos ou algo que construímos ao longo do tempo?
Nos últimos anos, falar sobre propósito profissional virou quase uma obrigação. Somos incentivados a buscar carreiras que tragam realização e estejam alinhadas com quem somos. Mas essa busca pode ser tão libertadora quanto angustiante. Afinal, e se não encontrarmos esse “grande sentido”? Ou pior: e se o que antes parecia fazer sentido deixar de fazer?
Muita gente associa sentido no trabalho a um propósito maior. Outros o encontram na utilidade prática, na criatividade ou nas conexões humanas que ele proporciona. Mas essa relação não é fixa: o que faz sentido hoje pode não fazer amanhã. Uma profissão que parecia um chamado pode se tornar apenas um meio de sustento, assim como um emprego sem grandes expectativas pode ganhar um significado maior com o tempo. O problema é que, muitas vezes, nos sentimos presos à ideia de que precisamos encontrar um “propósito definitivo”, como se houvesse uma resposta única e permanente para essa busca.
#01 - quando o trabalho deixa de fazer sentido
E quando aquilo que antes fazia sentido começa a perder a cor? Às vezes, os sinais são sutis: um desânimo que se instala aos poucos, uma inquietação difícil de nomear. Outras vezes, a desconexão vem de forma abrupta — uma mudança de valores, um esgotamento profundo, ou simplesmente a percepção de que “crescemos” e aquela função já não nos desafia mais.
O mais difícil nesses momentos não é perceber que algo mudou, mas decidir o que fazer com isso. Seguir em frente ou insistir mais um pouco? Mudar de carreira ou tentar ressignificar o que já fazemos? Nem sempre a resposta é óbvia, e o medo de tomar a decisão errada pode nos paralisar. Quem nunca?
#02 - o que influencia nossa percepção de sentido no trabalho?
Se a sensação de propósito pode mudar, o que determina essa mudança? Nossos interesses evoluem com o tempo, mas há também fatores externos que moldam nossa percepção. A cultura em que estamos inseridos, por exemplo, tem um papel enorme. Em alguns contextos, o trabalho é visto como um meio de sobrevivência; em outros, como uma expressão de identidade. Mas e quando crescemos ouvindo que “trabalhar com o que se ama” é o ideal, mas nos vemos em uma realidade onde essa escolha não é possível ou sustentável?
Além disso, momentos de transição – seja uma mudança de país, de carreira ou de fase de vida – podem redefinir completamente o que faz sentido. Algo que antes parecia suficiente pode deixar de ser, e o contrário também acontece: trabalhos que pareciam pouco atraentes podem ganhar um novo significado dependendo das circunstâncias.
Será que o sentido está no trabalho em si ou na forma como o enxergamos?
#03 - a busca por sentido pode ser um peso
Se por um lado encontrar sentido no trabalho traz motivação e realização, por outro, a pressão por um propósito claro pode ser sufocante. Vivemos em uma época em que o trabalho muitas vezes é colocado como a principal fonte de identidade e felicidade — mas será que isso é justo? Será que precisamos encontrar sentido em tudo o que fazemos ou podemos aceitar que, em alguns momentos, o trabalho será apenas trabalho?
Talvez o equilíbrio esteja em fazer as pazes com a impermanência. Aceitar que o sentido do nosso trabalho pode mudar, que está tudo bem não ter todas as respostas o tempo todo, e que buscar propósito não deveria ser uma prisão. No fim das contas, mais importante do que encontrar um significado definitivo é nos permitirmos questionar, experimentar e reavaliar ao longo do caminho.
Talvez a busca por sentido no trabalho seja como fotografar no modo manual. Um exercício de presença, experimentação e paciência. Às vezes, tentamos congelar um significado que já se moveu, tentando enquadrá-lo em uma lógica fixa, mas a vida – e o trabalho – têm o seu próprio dinamismo. Como no panning, há momentos em que o fundo se desfoca enquanto algo em nós segue nítido, em movimento, guiado por intenções que nem sempre conseguimos nomear de imediato. E está tudo bem. Leva tempo para sair do modo automático, leva tempo para entender o que queremos registrar e, principalmente, o que estamos dispostos a deixar borrar.
E você, já sentiu essa pressão de que seu trabalho precisa ter um grande propósito? Como lida com essa busca? Quero muito saber sua perspectiva.
Até breve!
PS: Se quiser entender um pouco mais sobre essa história de panning (que a foto tenta ilustrar), acesse este texto aqui.
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Essa pressão de buscar propósito no trabalho gera um eterno sentimento de insuficiência. A vida profissional já nos suga tanto… pra quê inventar mais essa pressão de propósito/ mudança na vida das pessoas/ missão? Utopia pura!
Rodrigo é sempre uma alegria ler teus textos, com todas as reflexões que fico aqui "matutando". E sim, fui empreender para trabalhar com algo que fazia sentido pra mim, como forma de transformar a relação das mulheres com o dinheiro. Mas sempre gosto de trazer a necessidade de perceber cada momento de vida, ciclo que estamos atravessando, para que a busca pelo propósito não vire mais um peso do que uma realização, como mencionaste.