A arte de desaprender
#05 | Como deixar o que nos prende e abrir espaço para o novo nas nossas carreiras e vidas — com os cuidados necessários.
A coluna Due Tramonti é escrita por Rodrigo Cotrim Carvalho e é enviada todo 3º domingo do mês.

Os ipês representam o aprender e desaprender constante que devemos incluir na nossa vida. Após florescer, as pétalas caem dos galhos no decorrer de uma semana, cobrindo o chão com a sua cor.
Oi!
Você já se perguntou quantas vezes não são as coisas que precisamos aprender que nos movem para frente, mas sim aquelas que precisamos desaprender? Hoje quero falar sobre o ato de desaprender — uma habilidade essencial que, muitas vezes, subestimamos. Quando pensamos em transições de carreira, ou em qualquer tipo de migração (interna ou externa), a ideia de deixar para trás crenças que nos limitam é, muitas vezes, o primeiro passo para criar o espaço necessário para o novo florescer.
Desaprender é um processo que começa quando percebemos que certos hábitos, rotinas ou até crenças que antes nos serviam bem, agora estão nos segurando. Pode ser aquela ideia de que “eu só funciono em ambientes controlados” ou a crença de que "não sou bom em X". Mas, aqui, vale uma pausa importante: quem define o que é ou não limitante? E mais: será que toda crença que parece limitante, de fato, é prejudicial?
#01 - crenças limitantes: e se elas forem protetoras?
Crenças limitantes são aquelas ideias que, muitas vezes, carregamos por anos e que nos dizem o que podemos ou não alcançar. Elas são as narrativas que vão se solidificando ao longo do tempo, geralmente sem que percebamos, até que, em algum ponto, se transformam em uma barreira invisível entre nós e nossas ambições. "Não sou criativo", "Não sou bom o suficiente", "Já estou sem idade para aprender algo novo" — todas essas são frases que podem se infiltrar na nossa consciência e passar a ser vistas como verdades absolutas.
Mas, é importante lembrar que, às vezes, essas crenças podem ter uma função protetora. Por exemplo, uma crença que nos faz pensar duas vezes antes de aceitar um novo projeto desafiador pode evitar que nos lancemos em algo sem o preparo necessário. Elas podem ser âncoras de prudência em meio a mares de incerteza.
Então, a pergunta que devemos nos fazer não é apenas "essa crença me limita?", mas sim "essa crença está me protegendo ou me impedindo de avançar?".
#02 - O desaprender como ato de coragem — e discernimento
Desaprender exige coragem, claro. Mas também exige discernimento. Não é sobre soltar o controle e abandonar qualquer ideia que nos trouxe conforto por tanto tempo. É sobre saber quando uma crença está nos servindo e quando ela está nos estagnando. Assim como a migração nos ensina a deixar para trás uma casa, uma cidade ou até mesmo uma cultura familiar, desaprender nos ensina a abandonar ideias e comportamentos que não nos servem mais. Ao mesmo tempo, é importante saber quando segurar e manter certas "crenças limitantes" que, em alguns contextos, podem ser úteis.
Aqui, as perguntas que podem nos guiar são:
1. Quais são as crenças que estão me ajudando a evitar furadas?
2. Quando essas crenças se transformam em barreiras que me impedem de arriscar?
3. O que preciso manter e o que preciso deixar ir?
O equilíbrio entre prudência e estagnação é delicado, mas crucial.
#03 - Espaço para o novo
Ao desaprender, abrimos espaço para algo novo entrar. Não estou falando apenas de aprender novas habilidades, mas de permitir que novas formas de ser e agir floresçam. Quando soltamos o velho, permitimos que novas possibilidades surjam, e é esse espaço — esse vazio momentâneo — que abre caminho para uma nova fase na nossa trajetória, seja ela profissional ou pessoal.
Para quem está em transição de carreira, por exemplo, desaprender pode significar deixar para trás a ideia de que existe apenas um caminho linear para o sucesso.
Isso nos permite abraçar a incerteza e explorar alternativas, muitas vezes inovadoras, para nos reinventarmos. Na vida pessoal, o desapego de crenças limitantes também pode nos ajudar a fortalecer nossos relacionamentos, ao abrirmos mão de antigas expectativas e padrões de comportamento que já não servem mais.
Desaprender é uma arte que exige coragem e discernimento. É essencial para o nosso crescimento e adaptação, mas também precisa de reflexão. O que você está carregando que já não te serve mais? E, mais importante: o que você está prestes a desaprender que, talvez, ainda tenha uma função protetora? Saber quando desapegar e quando manter pode ser a chave para equilibrar crescimento com segurança.
Se você quer refletir mais sobre o que é necessário desaprender para migrar, internamente ou externamente, te convido a ouvir o podcast Due Tramonti, onde discutimos essas e outras questões que envolvem transição e crescimento ´fora de casa.
Te encontro em breve, assim espero. Inté!
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