87 - E se o ponto de partida for o incômodo? | Guia de Ação
Guia prático pra reconhecer o que não cabe mais na sua vida profissional.
Este conteúdo faz parte da versão premium da Carreiras Múltiplas. Na editoria Guia de Ação de Carreira, a teoria vira prática, e a vontade de mudança se traduz em próximos passos possíveis.

Oi!
No texto da semana passada, escrevi que reconhecer o que a gente não quer mais é um começo tão legítimo quanto qualquer grande plano de carreira. O incômodo de estar perdido sobre o que se quer ser e/ou fazer não pode ser maior que identificar aquilo que não faz mais sentido para quem somos. Eu diria que saber o que a gente não quer mais é, muitas vezes, o verdadeiro ponto de virada.
É quando a gente deixa de tentar encaixar o nosso corpo num molde apertado. Quando para de pedir desculpas por estar desconfortável. Quando olha pra carreira e pensa: “Isso aqui já não é mais pra mim.”
O problema é que esse “não quero mais” pode vir disfarçado. Às vezes, ele aparece como cansaço. Como irritação. Como uma vontade de largar tudo sem saber exatamente pra onde ir.
Outras vezes, vem sutil, como um tédio que se repete toda segunda-feira de manhã.
Pra te ajudar a escutar esses sinais com mais clareza e coragem, preparei um pequeno guia com perguntas que uso nas minhas mentorias — uma espécie de faxina emocional e profissional, pra abrir espaço pro que ainda vai se revelar.
🧭 #01: o que você não negocia mais?
Antes de dizer o que você não quer, é importante entender por quê.
O primeiro passo desse guia é olhar pros seus valores.
Não do jeito idealizado, mas do jeito vivido mesmo:
– O que você tolera hoje que te esgota?
– O que você abre mão constantemente e te dá a sensação de estar se traindo um pouquinho?
Na mentoria de carreira, eu começo esse processo com a Bússola de Valores — um exercício simples, mas potente, que ajuda a identificar quais são os princípios que realmente importam pra você, no trabalho e na vida.
Quando esses valores são desrespeitados (mesmo que de forma sutil), o corpo sente. A energia baixa. O ânimo vai embora.
E é aí que a gente começa a entender o que precisa sair de cena.
👉 escrevi um texto onde compartilho como você pode começar a usar a Bússola de Valores na carreira.
Se você já tem clareza dos seus valores, a próxima pergunta é:
O que, hoje, está desalinhado com esses valores?
Liste sem censura. Sem filtro. Sem necessidade de parecer racional.
Escreva como quem desabafa. Porque é isso mesmo.
✋ #02: o que você tolera, mas não quer mais tolerar?
Essa pergunta pode incomodar — e, sinceramente, esse é um bom sinal.
Tolerar algo por um tempo pode ser estratégico. Mas viver num eterno “vai que melhora” costuma sair caro. Custa energia, autoestima e, às vezes, até saúde.
Pense na sua rotina atual e responda com sinceridade brutal:
– O que você está aceitando só porque “é o que tem por agora”?
– Quais são os incômodos que você varre pra debaixo do tapete?
– Tem algo que você normalizou, mas que na verdade te machuca?
“Por muito tempo, achei que era feliz no caos — prazos apertados, desafios constantes, maratonas de 15 horas. Mas entender o que eu não queria mais me fez enxergar o absurdo: eu estava adoecendo. Tive uma infecção urinária porque esquecia de beber água, de comer, de ir ao banheiro.”
Faça uma lista do que você está tolerando por inércia. Não precisa justificar nem planejar como mudar agora — o foco aqui é dar nome ao que está pesado demais.
🙅♀️ #03: o que você diz “sim” mas quer aprender a dizer “não”?
Essa etapa costuma ser reveladora.
Muita gente se perde na carreira por dizer “sim” demais. Sim a projetos que não quer. Sim a reuniões desnecessárias. Sim a tarefas que não têm nada a ver com seus talentos ou propósito.
E, aos poucos, vai se afastando de si.
Aqui vão algumas perguntas pra te ajudar a mapear:
– Em que momentos você sente que está dizendo “sim” pra agradar?
– Em quais situações você se sente invadida, sobrecarregada ou usada?
– Quando foi a última vez que disse “não” com convicção?
“Durante um atendimento online, vi meu cliente abaixar a cabeça em câmera lenta... até desmaiar sobre o teclado. Foram segundos de pânico até conseguir ajuda. Horas depois, veio o diagnóstico: burnout. Uma doença que ele jamais imaginou que um dia teria.”
Escreva os “sins” que você gostaria de transformar em “nãos”.
spoiler: essa mudança não vem só de coragem. Ela vem de clareza. E é isso que você está construindo aqui.
🔁 #04: o que você não quer repetir?
Essa etapa é sobre padrões que cansam, mas se repetem, como aquelas séries que você já decorou, mas por algum motivo sempre volta a assistir.
Pense em momentos da sua vida profissional em que você se sentiu perdida, sobrecarregada, ou completamente desconectada de si.
Tem algo que sempre se repete? Algum ciclo que insiste em voltar?
– Você sempre acaba sobrecarregada nos trabalhos?
– Vive se sentindo “menor” nas reuniões?
– Troca de empresa, mas a frustração é a mesma?
“As coisas que ninguém queria fazer, eu pegava pra mim. Mas será que era isso que eu queria fazer?”
Liste os padrões que você não quer mais carregar pro futuro.
Eles costumam ser pistas de algo mais profundo — uma crença, um medo, uma ferida antiga. Mas só de nomear, você já dá um passo em direção à mudança.
🌿 #05 - deixar espaço para o novo
Esse exercício não tem uma resposta certa. Ele não termina com um plano de carreira perfeito.
Mas ele pode marcar o início de um processo de liberação.
Ao dar nome ao que você não quer mais, você começa a abrir espaço pro que ainda não sabe — mas que talvez esteja só esperando um cantinho limpo pra poder chegar.
Você não precisa ter todas as respostas agora. Mas precisa ter coragem de fazer boas perguntas.
E essa já é uma delas:
O que você está pronta pra deixar ir?
Montei um PDF especial com esse passo a passo.
Ideal pra quem gosta de papel, caneta e reflexões na mesa de café — ou pra reler quando a dúvida bater.
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Se você está buscando equilíbrio entre o trabalho e a vida pessoal, este espaço é para refletir, aprender e construir um caminho alinhado com os seus valores. Porque uma carreira autêntica começa com escolhas que fazem sentido para você.