86 - Você sabe o que não quer?
Saber o que não quer já é saber alguma coisa. E isso conta muito.

Oi!
Nos últimos dias, ouvi uma frase que ficou ressoando em mim por horas:
“Parece que estou perdendo tempo porque não sei o que quero da minha vida.”
Ela veio durante uma sessão de Mentoria de Carreiras — daquelas conversas corajosas, em que a pessoa decide olhar de frente pro incômodo. A cliente falava sobre a angústia de não saber qual seria o próximo passo profissional, repetindo várias vezes, quase com culpa: “eu preciso saber o que eu quero!”. Mas havia algo que ela ainda não tinha percebido: mesmo sem todas as respostas, ela já começava a enxergar o que não queria mais — e isso, muitas vezes, é o primeiro passo real de qualquer recomeço.
Já reparou que a pergunta que pode destruir sonhos infantis é sempre voltada para o que a gente quer fazer quando crescer?
Por que ninguém pergunta o que a gente não quer ser?
Por que a sociedade exige que descubramos o que fazer, mas nunca incentiva a identificar o que não faz mais sentido?
Quando fui desligada do trabalho mais tóxico que já tive, eu também não fazia ideia do que queria pro futuro. Zero. Mas sabia, com todas as células do meu corpo, o que eu não queria mais:
Ser desrespeitada.
Sentir vergonha por ser quem eu era.
Perder momentos importantes da vida do meu filho por uma empresa que dizia se importar, mas não se importava.
Na época, eu me cobrava o tempo inteiro:
“Como é que eu, com 34 anos, ainda não sei o que eu quero fazer da vida?”
Só que a verdade é que esse “querer” estava contaminado. Eu não sabia o que eu queria — só o que os outros esperavam que eu quisesse. Usava a régua alheia pra medir a minha trajetória. Não tinha como aquilo dar certo.
O tempo me ensinou que, antes de definir o “próximo passo ideal”, a gente precisa ter coragem de fazer uma limpa nas nossas certezas de mentira.
E reconhecer o que a gente não quer mais é um começo tão legítimo quanto qualquer grande plano de carreira.
Tem gente que paralisa achando que precisa ter tudo claro antes de se mover.
Mas às vezes, o movimento começa por eliminação:
→ Não quero mais esse ritmo.
→ Não quero mais me apagar pra caber.
→ Não quero mais me prometer que “é só por mais um tempo”.
→ Não quero mais seguir expectativas só pra manter uma imagem.
Eu demorei pra entender isso.
E hoje, sempre que uma cliente se sente culpada por “não saber o que quer”, eu respondo com carinho e firmeza:
Confia no processo. Antes de saber o que você quer, descobre o que você não quer.
Esse pode ser o começo de tudo!
—
🧭 Na edição premium da próxima semana, eu vou compartilhar um pequeno guia com perguntas que podem te ajudar a mapear o que você não quer mais e abrir espaço pro que ainda vai se revelar. É uma espécie de bússola inicial — não mágica, mas honesta — pra quem ainda não descobriu o que não quer.
Se você está aí, nesse meio do caminho, essa edição é pra você.
A gente se vê lá. 🌿
Com carinho,
Pri
Posts relacionados:
Escrevi esse texto ao som de Leon Bridges — cantor americano que conheci por causa da música River, trilha sonora da série Big Little Lies. Soul, blues e jazz se misturam na voz dele como se cada faixa fosse um abraço. Se você estiver precisando de um som que te acolha enquanto atravessa o que ainda não tem nome, dá o play.
Respira fundo e vai! 😉
Considere migrar para a versão premium da news Carreiras Múltiplas. Você vai ter acesso a edições extras, a série Estratégias de Carreira, além dos textos com reflexões sobre carreira, autodesenvolvimento, rotinas sustentáveis e como criar um ambiente de trabalho equilibrado.
Excelente, Pri! Já ouvi gente falando em tom de crítica: “saber o que não quer é fácil.”
Concordo muito com você. Saber o que não quer, sem dúvida nenhum, é super importante. Um belo ponto de partida.