Quando a vida pede pausa, e o trabalho precisa esperar
#94 | Um texto sobre as pausas forçadas, o peso de precisar dar conta de tudo — e o que acontece quando o pessoal atropela o profissional.

Oi!
Você já tentou manter a rotina profissional enquanto a vida desmoronava aos poucos no fundo da tela?
Eu tentei. E falhei lindamente.
Nos últimos meses, minha agenda profissional — cuidadosamente planejada com bloquinhos coloridos e metas bem traçadas — simplesmente precisou ser colocada de lado.
Meu filho adolescente, um dos dois grandes atos de coragem da minha vida, estava atravessando uma situação difícil que se arrastava desde o início do ano. Quando ele finalmente me pediu ajuda, não havia escolha: minha atenção foi toda pra ele.
Vivi algumas semanas no modo mínimo viável.
A produtividade? Suspensa.
O planejamento? Paralisado.
A maternidade como prioridade — e o colapso invisível
Eu poderia dizer que tirei de letra. Que segurei tudo com leveza e maturidade.
Mas a verdade é que entrei no modo sobrevivência. Fiz o que era necessário — e o resto ficou em segundo plano: o trabalho, as amizades, minha saúde.
Isso me fez pensar nesse conflito silencioso que tantas de nós enfrentamos: o de dar conta do que é esperado de nós enquanto tentamos acolher o que está vivo, urgente, gritando por cuidado dentro da gente.
A falsa promessa do “dar conta de tudo”
As mulheres da minha geração (+40) foram educadas a serem mulheres-maravilha. A vestir a capa vermelha e fazer aquela pose de poder, com as mãos na cintura e o queixo erguido. Sem perceber, a gente tenta viver nesse modo "pronta pra guerra" todos os dias. Só que o corpo não aguenta. A mente não sustenta. O coração pede trégua.
Mas... por que precisamos tanto disso?
Estamos E-S-G-O-T-A-D-A-S.
Cansadas de performar competência enquanto desmoronamos por dentro.
Sobrecarregadas de expectativas que nem sempre são nossas.
E talvez a ideia que mais precise ser desconstruída seja essa:
Nós NÃO precisamos dar conta de tudo.
Repita.
Nós NÃO precisamos dar conta de tudo.
Repita de novo.
A pausa possível — e os sinais que a gente ignora
Eu só percebi o tamanho da minha exaustão quando uma prima acionou a minha irmã e outra prima nossa pra saber de mim. Depois de deixar algumas (várias) mensagens nas redes sociais que, claro, não estava acessando, ela me ligou (sim, ligou de verdade!) pra perguntar se eu estava bem. Eu não respondia mensagens havia mais de dez dias.
Aquela ligação foi meu alerta. Eu tinha sumido de mim mesma.
E tudo isso me fez repensar a forma como tenho vivido. A forma como tenho trabalhado.
A forma como tenho cuidado — ou deixado de cuidar — de mim.
Talvez a maior coragem da nossa geração não seja dar conta de tudo.
Mas sim admitir quando não dá.
E pedir colo antes de desabar.
Você já viveu algo parecido? Responde esse e-mail ou deixa nos comentários — vou adorar te ouvir e saber que não estou sozinha nessa.
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Sou Pri Tescaro, jornalista, escritora e mentora de carreiras. A Carreiras Múltiplas nasceu do desejo de escrever com verdade sobre os dilemas, recomeços e nuances do trabalho — especialmente para mulheres que, como eu, não querem mais seguir fórmulas.
Nossa.. essa aqui foi forte:
"Talvez a maior coragem da nossa geração não seja dar conta de tudo. Mas sim admitir quando não dá".
Fiz isso quando mudei de tempos de carreira - quando percebi que não daria conta da maternidade e da carreira no mercado corporativo.. não sabia tudo junto e admitir isso me trouxe pausa e paz!
Pri, espero que as coisas tenham se assentado por aí e que Pietro tenha encontrado caminhos.
Tem colo aqui também, se precisar 😘