E/ou: você pratica?
#01 | Explorando o "e/ou": como a ambiguidade reflete as complexidades das nossas escolhas diárias.
A coluna Due Tramonti é escrita por Rodrigo Cotrim Carvalho e é enviada todo 3º domingo do mês.
Você já se deparou com a expressão "e/ou" em textos e formulários? Este é um recurso gramatical interessante da língua portuguesa que usamos para indicar que duas ou mais opções podem ser verdadeiras simultaneamente ou de forma independente. Isso nos permite abarcar várias possibilidades em uma única expressão, refletindo a complexidade e a flexibilidade do pensamento humano.
Em inglês, o equivalente mais comum de "e/ou" é "and/or". É usado da mesma forma para sugerir que qualquer uma das opções, ou ambas, podem ser aplicáveis. Por exemplo, em um formulário pode aparecer a instrução: "Please select any and/or all options that apply" (“Por favor, selecione qualquer uma e/ou todas as opções aplicáveis”. É maravilhoso quando um formulário dá colo pra nossa complexidade, não é mesmo?).
No espanhol, utiliza-se "y/o" para expressar uma escolha similar, facilitando a inclusão de múltiplas possibilidades. Um exemplo comum seria em instruções ou menus, como: "Puedes elegir entre café y/o jugo" (“Você pode escolher entre café e/ou suco”. Sim, é possível. Minha irmã consome duas bebidas ao mesmo tempo, por mais que eu tenha dificuldades em entender esse comportamento).
No francês, a conjunção "et/ou" serve ao mesmo propósito, oferecendo flexibilidade nas escolhas expressas. Um exemplo seria: "Vous pouvez travailler et/ou vous reposer pendant les vacances" (“Você pode trabalhar e/ou descansar durante as férias”. Quem nunca?).
Em italiano, a expressão "e/o" também é utilizada para indicar alternativas combinadas. Um exemplo seria: "Puoi scegliere di andare in montagna e/o al mare per le vacanze" (“Você pode escolher ir para a montanha e/ou para o mar nas férias”. Sim, existem cidades que oferecem ambas possibilidades e nem estou falando isso por ser carioca, tá?).
Mas tem que escolher sempre? Sim, tem.
E essas escolhas podem ser contraditórias? Sim, podem.
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A ideia de binariedade em si não é ruim, nem equivocada, nem errada. Ela só não dá conta da complexidade da experiência humana sempre. Buscar ‘coerência’ é uma coisa, limitar as possibilidades diante de determinados contextos é outra. Com o tempo, muitas pessoas aprendem a distinguir quando é limitante, quando é libertador buscar a coerência para lidar com a ambivalência.
Mas ambivalência e ambiguidade são coisas distintas? Sim, são, ao menos conceitualmente. E estão conectadas, mas não vamos entrar nessa conversa agora. Teremos tempo pra isso mais pra frente. O que dá pra gente destacar aqui, por agora, seriam três pontos chave:
#01 - Entender que a ambivalência não é apenas sentir coisas contraditórias; é também uma oportunidade de compreensão profunda.
Originário do latim ambivalentia, que significa força em duas direções, este termo nos ajuda a entender que não precisamos estar sempre certos ou ter respostas claras. Na vida e na carreira, aceitar a ambivalência significa reconhecer que podemos ser apaixonados e incertos, seguros e questionadores, tudo ao mesmo tempo.
#02 - Identificar a ambivalência em si.
Perceber a ambivalência é o primeiro passo para acolhê-la. Ela pode surgir em momentos de mudança significativa ou decisões difíceis e é frequentemente marcada por um diálogo interno intenso. Aprender a identificar esses momentos pode ajudá-lo a navegar pelas complexidades das suas emoções e escolhas com mais compreensão e menos julgamento.
#03 - Germinar a partir da ambivalência.
Uma vez reconhecida, a ambivalência pode ser um solo fértil para o crescimento. Ela nos desafia a explorar novas perspectivas e soluções, impulsionando a criatividade e a inovação. Em vez de forçar uma escolha entre o "e" e o "ou", podemos perguntar "como posso integrar essas duas forças?" Isso abre espaço para soluções mais inclusivas e satisfatórias, tanto pessoalmente quanto profissionalmente.
“Desejo que toda vida humana seja pura liberdade transparente.” - Simone de Beauvoir
Este desejo de liberdade, onde cada escolha e cada emoção são mais autênticas, pode parecer uma utopia, mas é na ambivalência que encontramos a verdadeira essência dessa liberdade. Acolher nossas contradições e incertezas nos permite viver de forma mais genuína e integrada. Na ambiguidade das nossas emoções e decisões, descobrimos a profundidade da experiência humana, onde a liberdade não é a ausência de dúvida, mas a capacidade de navegar por ela com clareza e intencionalidade.
Esse é meu recado por hoje. Me chamo Rodrigo Cotrim de Carvalho, estou com 44 anos, sou brasileiro morando no Canadá há 2 anos e meio e estou experimentando na própria pele todas as dores doídas e libertadoras da ambivalência, e justamente por conta dessa movimentação, estou iniciando um podcast chamado Due Tramonti que há tempos quero fazer, mas não sabia por onde começar. Ainda não sei, mas só sei que ter escrito este texto é um começo estimulante.
Te encontro em breve, assim espero. Inté!
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