Luciana Pianaro | Histórias que Inspiram #10
"Quero usar mais a intuição e menos a mente para construir meus próximos passos. Permanecer atenta aos sinais e confiar no fluxo da vida!"
Uma vez por mês, eu compartilho histórias inspiradoras de profissionais que se reinventaram na carreira. Seja mudando de atividade, criando um projeto paralelo, ou trabalhando em uma nova carreira, sempre em busca de uma vida equilibrada e com significado. Pegue sua xícara de café e boa leitura!
Eu conheci a Revista Vida Simples em 2006 quando morava em Campinas (SP). Ela foi minha companheira quando encerrei um relacionamento e não estava feliz no meu trabalho. Sabe aquele período em que nada parece estar no lugar? Assinei a revista impressa e, todos os meses, passava o final de semana usando suas páginas e conteúdos quase como uma terapia informal.
O tempo passou, eu amadureci, casei, mudei de estado e me reinventei algumas vezes. Com a Revista não foi diferente. Há seis anos, a publicação está nas mãos de Luciana Pianaro, a Publisher da Editora Vida Simples.
"Conheci" a Lu quando voltei a assinar a Revista, no começo deste ano. Me identifico com os textos que ela escreve aos domingos. Com uma xícara de café e um ritmo mais lento, saboreio as palavras e me enxergo em frases que parecem falar diretamente comigo.
Formada em Administração na Universidade Federal do Paraná, Luciana aprendeu idiomas e fez MBA em Finanças (mesmo sem amar o tema, mas sabendo que seria útil na época). Durante sete anos, teve uma carreira segura e promissora na Volvo, multinacional sueca de veículos pesados, onde iniciou sua carreira executiva.
"Foi na Volvo que estacionei meu grande caminhão de sonhos por um tempo. Entretanto, este casamento com a empresa não sobreviveu à crise dos sete anos. Precisava sair, respirar outros ares, aprender coisas novas e ter novos desafios", escreveu em uma entrevista de 2018.
Entrei em contato com a Lu para ser a 10ª entrevistada do Histórias que Inspiram e celebrar este marco importante neste espaço que tanto me faz feliz.
Espero que você aproveite o texto assim como apreciei a entrevista que fiz com ela.
Boa leitura!
→ Como foi o início da sua carreira?
Venho de uma família humilde e meus pais, talvez por terem lutado muito, enfrentado dificuldades, me educaram para ser uma boa funcionária, de preferência em uma grande empresa. Meus pais sempre quiseram que as filhas tivessem uma vida diferente da deles. Comecei estagiária e depois fui contratada pela Volvo onde fiquei sete anos nesse emprego dos sonhos e com uma carreira promissora. Aprendi muito sobre gestão, liderança, processos, que depois serviram muito para aplicar nos meus empreendimentos. Porém, chegou um período que eu queria mais, achava Curitiba muito pequena para mim e decidi fazer MBA no exterior para explorar outras possibilidades de trabalho.
→ Quando foi o momento que decidiu deixar a Volvo?
Eu não via a empresa com oportunidades para mulheres ainda que eu estivesse evoluindo lá dentro. Estamos falando de mais de 20 anos atrás, poucas tinham. Na mesma ocasião acabei conhecendo meu ex-marido e decidi trabalhar com ele na sua empresa de consultoria, enquanto me preparava para o MBA. Mudamos para São Paulo. A parceria prosperou muito e acabei deixando o sonho de estudar fora de lado, me descobrindo feliz com a liberdade que empreender me dava.
→ Empreender aconteceu sem querer?
Sim. Adaptei o que tinha aprendido na multinacional, profissionalizando aquele pequeno negócio. Tinha disciplina como se saísse para trabalhar em uma grande empresa. Tinha horário para iniciar e encerrar o dia, me vestia para tal e meu comportamento era de uma executiva fazendo o que precisava ser feito. Só que, além da executiva, era responsável por fazer mil e outras funções, porque numa pequena empresa, você precisa fazer meio que tudo.
→ Foi nessa época que você começou a gostar de empreender?
Sim, foram as descobertas que fiz naquele início que me trouxeram até aqui como Publisher da Revista Vida Simples. Tinha vontade de formar uma família e ter qualidade de vida. Às vezes, quando você está em uma grande empresa e sonha em ser uma super executiva, acaba ficando um pouco refém da agenda da corporação. Isso não é um problema para quem quer aquela vida, mas eu não queria mais.
→ Além da empresa de consultoria, você criou outros negócios, certo?
Isso mesmo. Fiquei na consultoria até o ano passado, quando me separei e não fazia mais sentido continuar. Foram mais de 20 anos e nesse período ainda tive outras empresas com amigas. Também fundei uma startup na área de moda que ficou em uma incubadora de negócios nos Estados Unidos por um ano - acabei fazendo um MBA na prática, em Boston. Foi nesse período que entendi que é necessário encerrar ciclos - quando a start-up acabou não prosperando. Uma das coisas mais importantes que a gente precisa aprender é saber quando chegou o momento de desistir. Eu tinha investido tempo e dinheiro, fiquei longe da minha família, mas a startup não ia adiante. Chegou o momento em que precisei dizer não ao projeto. Foi sofrido internamente, mas igualmente, libertador.
→ Percebo que as pessoas são muito apegadas e tem dificuldades em entender que é hora de encerrar alguns ciclos. A escritora Martha Medeiros escreveu sobre a dificuldade que a gente tem para encerrar os ciclos. Para ela, a maioria das pessoas encara o fim de algo como um fracasso, como algo que deu errado.
Encerrar qualquer coisa exige muita coragem. É preciso ter força emocional para dizer aos outros, principalmente, que a decisão cabe apenas a gente. Acho que uma coisa que a gente faz é tentar justificar o encerramento o tempo todo, não precisa. Só gera desgastes emocionais. Aprendi isso a duras penas.
“É importante que, durante a carreira, a gente saiba os momentos certos de dizer não, de não seguir em frente com alguma coisa. Eu fiz isso e foi uma libertação muito grande.”
→ O que você fez ao chegar no Brasil?
Eu já estava chegando nos meus 35 anos e busquei terapia novamente para entender meus próximos passos. Descobri também que queria ter filhos. E tomar essa decisão foi a melhor coisa que fiz!
→ Foi nessa época que a Revista Vida Simples entrou na sua vida?
Sou formada em Administração, fiz dezenas de cursos na área de negócios, estratégia, empreendedorismo, mas eu também sempre gostei de desenvolvimento pessoal, de autoconhecimento. Me interesso em entender sobre a vida, sobre as emoções. A Vida Simples era um dos lugares onde eu ia buscar esses conteúdos. Sempre fui leitora da revista e tenho toda a coleção desde a número um. Logo depois do nascimento do meu filho, aos 40 anos, eu estava em busca de um novo trabalho para me dedicar e um dia, abri uma edição qualquer da minha coleção, como um oráculo, em busca de algum insight. No mesmo instante veio a inspiração para criar um projeto de educação emocional.
A Vida Simples veio como uma nova oportunidade de negócios.
→ A ideia inicial não era comprar a Revista Vida Simples?
Não! A primeira ideia foi criar o projeto da escola de desenvolvimento sócio-emocional. No tempo que morei em Boston, aproveitei para conhecer o que estava acontecendo por lá e vi que o tema do autodesenvolvimento era uma tendência nas principais universidades americanas. Reuni muita pesquisa e materiais que trouxe de lá, montei um plano de negócios no modelo de start-up e fui apresentar a alguns investidores. Porém, as pessoas com quem conversei não viram valor na ideia porque as empresas (meu foco no projeto ) não investiam tanto em soft skills, em saúde emocional…. Uma pessoa sugeriu que eu apresentasse o projeto à equipe da Vida Simples, já que ela também serviu de inspiração para minha ideia de negócio.
Apresentei o projeto à editora proprietária da revista na época. Minha ideia era ousada: queria ser uma spin-off (termo usado em start-ups para novos braços de um negócio), o braço de educação da revista. Eles amaram a ideia, mas por vários fatores, incluindo a crise e a transformação que o mercado editorial impresso estava passando, o projeto não foi adiante. Um tempo depois, quando a editora decidiu se desfazer da revista, eles lembraram do meu projeto e me ofereceram a Vida Simples para comprar.
“A compra da Vida Simples era, ao meu ver na ocasião, a forma mais lógica de executar o projeto da escola. Vida Simples era uma marca consolidada, muito querida pelo seu público e tinha uma boa estrutura. Não estava comprando uma revista, estava comprando um conceito, um legado de conteúdos necessários ao mundo, uma marca”
→ Já são cinco anos como Publisher da editora. Como está sendo esse período?
Administro esse projeto com uma paixão muito grande e acreditando muito naquilo que a gente faz. Às vezes as pessoas falam pra mim "nossa, mas você trabalha por um propósito, em um negócio muito legal" e respondo que sim, mas eu não fui em busca de um propósito especificamente, aconteceu porque eu realmente acreditava na minha ideia inicial da escola de desenvolvimento sócio-emocional. Acho que o universo conspirou pra que eu estivesse no lugar certo, no momento certo. Ainda não consegui implementar tudo o que quero na Vida Simples, mas eu tenho só cinco anos de empresa, estou no caminho.
“Planejo que a Vida Simples seja um hub de autoconhecimento, de bem-estar, de inteligência emocional, com conteúdo, com aulas, com cursos, produtos e serviços.”
→ Você encara a compra da revista como uma mudança de carreira?
Não, absolutamente. Continuo a empreender e a trabalhar com administração, é meu dia a dia, como gestora do negócio e de pessoas. Não precisei mudar de profissão, mas fui adquirindo novas habilidades para minha carreira. Precisei desenvolver o meu lado da escrita porque, como a Publisher (dono da editora), preciso escrever. O que eu fiz, e faço até hoje, é não parar de aprender, de me aperfeiçoar. Nunca deixei de fazer cursos, de ler livros, de acompanhar as tendências. Mesmo que não seja na minha área, entendo que pode ser útil ao negócio, eu faço. Estou sempre ampliando o meu conhecimento para me manter atualizada no mercado.
→ Ser Publisher de uma revista dá frio na barriga?
Claro! Eu diria que como qualquer negócio onde você é o único responsável (sou a única sócia, por enquanto). É um mercado complexo e que passa por muita transformação. Eu errei muito no começo porque eu não sabia direito como fazer as coisas. Uma coisa é você comprar uma revista que você ama e outra coisa é produzir e distribuir em todo Brasil uma revista mensalmente. Precisei entender sobre tudo: os sistemas de tecnologia, conhecer os fornecedores, a gráfica, os distribuidores, os Correios. A gestão de uma revista impressa é altamente complexa. Conhecer tudo isso foi um grande desafio e continua a serum grande aprendizado.
→ Quando você fala sobre o frio na barriga, é sobre vulnerabilidade?
Também é. Não tenho medo de mostrar aquilo que não sei, não tenho medo de fazer perguntas. Na minha newsletter semanal você percebe que me exponho. Foi a forma que encontrei para conseguir aprender sobre a vida e os negócios. Eu me mostro inteira porque eu sou assim, porque eu não sei tudo, e nem tenho que saber tudo.
Saber pedir ajuda é fundamental na vida e eu nunca tive vergonha de pedir.
→ Pra mim, o nascimento do meu filho foi um importante marco na minha maior transição profissional até hoje. As mudanças que você fez ao longo da vida foram em busca de equilíbrio entre a vida pessoal e profissional?
Ser mãe do Erik mudou a minha perspectiva do mundo, especialmente por ele ter nascido quando eu já tinha 40 anos. Havia feito muita coisa na vida, viajado pelo mundo, estudado línguas, um mestrado, diversas experiências profissionais. Encarei a maternidade como um projeto de vida e sabia que não queria terceirizá-la, queria estar próxima, participar dos momentos importantes do meu filho. E, estou fazendo isso. Fui em todas as reuniões da escola, em todas as festinhas. Quero que ele tenha essas lembranças. Mas, ainda busco uma forma de fazer isso com equilíbrio. Tive burnout duas vezes, muitas vezes pelo excesso de responsabilidades mesmo. Próxima a completar 50 anos em alguns meses, quero ter muita saúde para fazer muita coisa com ele, e para mim também. Por isso, cuido muito da minha saúde, com exercícios físicos e boa alimentação. Além dos cuidados com a saúde das emoções.
→ Você se acha uma pessoa corajosa?
Quando era jovem, ainda que muito tímida, eu não tinha medo de pedir ajuda, marcar reuniões com quem não conhecia, de ir atrás das coisas, de arriscar e errar. Acho que fui muito corajosa sim, e isso me trouxe até aqui. Não significa que não tenha medo, não tenha inseguranças. Muitas vezes, convivo com dúvidas durante um bom tempo. Minha "coragem" mais recente foi ter me separado depois de 23 anos de casamento. Não digo que é fácil promover mudanças, mas são elas que nos transformam, que nos fazem evoluir, que nos levam por vezes, a caminhos que jamais imaginamos. E, tudo começa um primeiro passo ou um primeiro pensamento: "E por que não?". Todos somos muito mais fortes do que imaginamos. Mas, por vezes, nos sabotamos.
→ Quais seus próximos passos na vida e na carreira?
Continuo a investir em meu autoconhecimento, fazendo cursos, retiros, lendo bastante sobre diversos temas. É uma busca interior muito forte. E a me cuidar, para atravessar os próximos anos com boa saúde.
Na carreira, quero escrever um livro sobre liderança e autoconhecimento e pretendo continuar a trabalhar até "velhinha", mas aos poucos, reduzindo a carga horária. Penso que talvez um dia eu seja professora de yoga. Não sei ainda. Quero usar mais a intuição e menos a mente para construir meus próximos passos. Permanecer atenta aos sinais e confiar no fluxo da vida!
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Leia as edições anteriores do Histórias que Inspiram.
Até a próxima edição.
Com carinho,
Pri
Acompanho a vida simples a anos! Já fui assinante da revista e sigo admirando o conteúdo. Essa revista já me fez sonhar em ter a minha revista, engraçado ler sobre essa matéria e reviver essa memória. Vida longa a vida simples ❤️🙏🏼
Que maravilha de conversa, Pri. Adorei. Também fui assinante da revista e acompanhei a evolução dela ao longo de uns bons 5 anos. Tenho uma ótima memória dela, obrigado por promover este papo inspirador. Bjs