Carreiras Múltiplas é uma newsletter para quem está cansado da sua carreira ou do seu trabalho, quer mudar e não sabe por onde começar. Reflexões sobre trabalho, bem-estar e criatividade. Por Pri Tescaro, jornalista, autora e mentora de carreiras.
Oi!
Escrevo este texto olhando pela porta de vidro na frente da minha mesa de trabalho. Chove muito! A previsão do tempo é de mais chuva para hoje (quinta-feira, 23) e amanhã (sexta-feira, 24).
Eu perdi a conta de quantos dias já chove em todo estado do Rio Grande do Sul.
Lembro da última vez que levei meu filho ao colégio, em 02/05, quinta-feira. Já estava chovendo desde segunda-feira (29/04), mas não era muito. Era constante. O tempo todo, dia e noite. Naquela quinta-feira, uma parte dos pais preferiu deixar os filhos em casa talvez porque já previam o que seriam os próximos dias. Naquela noite, o treino de futebol do Pietro foi cancelado porque o ginásio da escola estava com muita água no piso.
Também foi na quinta-feira, dia 02, a última vez que o Márcio foi trabalhar na Arena do Grêmio. A região do Humaitá, bairro onde fica o estádio do Grêmio em Porto Alegre, é uma região que sempre alaga quando chove mais forte por mais de três dias.
Acordamos na sexta-feira meio tensos pelas notícias que lemos nos veículos de comunicação. Confesso que pensei: "bah, será um final de semana caótico em Porto Alegre." Antes fosse!
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Como jornalista curiosa que sou, passei o dia ouvindo a maior rádio de notícias do RS, a Rádio Gaúcha, para tentar entender o que estava acontecendo. Nem os repórteres sabiam direito. Parecia que todos estávamos meio perdidos, atônitos com o que víamos e ouvimos.
Daquela sexta-feira (03/05) até hoje se passaram exatos 20 dias. VINTE DIAS!
Minha "ficha" começou a cair no domingo, dia 05/05, quando o barulho dos helicópteros era constante. Foi assim o dia todo até às 22h, quando tentei dormir.
De lá para cá, a sensação que eu tenho é de vivermos uma grande anestesia. Algo como uma pandemia versão 2.0. A diferença é que antes as pessoas ficavam protegidas em suas casas. Hoje, centenas de milhares de pessoas não têm casas para se abrigarem.
Nunca vivenciei um furacão ou terremoto, mas deve ser semelhante. Talvez, a diferença seja que nos dois primeiros desastres, as tragédias começam e terminam em questão de minutos. Na enchente não. Tem pessoas que estão há 20 dias sem casa e sem previsão de retorno. Os mais otimistas falam que haverá inundação em diversas regiões do RS, incluindo Porto Alegre, até o final de maio.
#01 - solidariedade
Durante as últimas duas semanas, o Brasil acompanhou por meio dos veículos de comunicação (de confiança e não por meio das fake news) a tragédia que a população gaúcha vivia.
Quem está fora se compadece, se emociona e ajuda. Que povo foda é o brasileiro. A quantidade de doações que chegaram e continuam chegando é impressionante.
Mas são os voluntários daqui, os moradores, vizinhos, parentes e amigos que se mostraram incansáveis. Por dias e dias essas pessoas entraram nas áreas alagadas para resgatar quem estava ilhado.
O povo foda é o brasileiro.
Quem é de fora do RS acompanhou pela televisão, mas eu que moro em Porto Alegre há 17 anos vi amigos e conhecidos na linha de frente, dentro do Guaíba, recebendo quem chegava de barco. Acompanhei os emocionantes resgates dos animais de estimação que ficaram ilhados em cima dos telhados. A Deise Falci, uma protetora de animais maravilhosa, resgatou centenas de pets e hoje tem mais de 1.000 animais para adoção (pra mim, a Deise é a definição de amor!).
A ajuda não para, graças a Deus!
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#02 - os números da tragédia
Serão meses e anos para o Estado se recuperar da maior tragédia climática da história. Sabe-se lá quando retornaremos ao que já fomos um dia.
Até o momento, a forte chuva provocou estragos em 467 dos 497 municípios do RS. O desastre climático deixou 581.633 pessoas desalojadas e 68.345 em abrigos.
Em razão das enchentes, o número de mortes até o momento é de 163 pessoas, 806 feridas e 75 pessoas ainda seguem desaparecidas.
O rio Guaíba atingiu a marca de 5m35cm no dia 05/05. É o maior índice da história, muito acima do registrado na enchente de 1941, quando a água do Guaíba chegou a 4m76cm na região do Cais Mauá.
Cidades inteiras como Eldorado do Sul, Cruzeiro do Sul e Arroio do Meio foram totalmente destruídas. É um cenário de guerra, expressão que passou a ser corriqueira por todos nós desde o início do mês.
#03 - e agora, o que fazer?
O aeroporto de Porto Alegre foi coberto pela água. O andar térreo foi todo destruído. A previsão é que ele consiga ser reaberto em setembro (sendo bem otimista!).
Há centenas de trechos de rodovias que foram parcial ou totalmente destruídos.
Estações de tratamento de água e esgoto precisam ser reconstruídas.
Os trilhos do trem intermunicipal estão cobertos de entulho que a enchente deixou.
Milhares de toneladas de lixo precisam ser retirados das ruas.
Mas, acima de tudo, vidas precisam ser reconstruídas.
As pessoas precisam encontrar forças sabe-se lá onde para voltar para um lugar que um dia chamaram de lar. Onde não existem mais fotos de festas de aniversário, noites de Natal. Onde os cadernos do filho estão despedaçados. Onde os quadros na parede refletem a altura que a água chegou naquele lugar.
As pessoas precisam voltar para um lugar e recuperar os bonecos da infância, as roupas e sapatos preferidos, os livros. A sala onde toda noite assistiam à novela ou maratonavam seriados. Não tem mais a mesa de jantar onde os almoços de domingo reuniam toda a família e sempre saia uma discussão sobre Grêmio e Inter.
As pessoas precisam resgatar sua dignidade.
Não é fácil.
Não será fácil.
Tem um trecho no hino rio grandense que eu gosto muito. Talvez você ache brega, mas quem está aqui vivendo essa tragédia sem precedente, gaúcho ou não, sabe a força que tem:
Sirvam nossas façanhas de modelo à toda terra.
#04 - quer doar e não sabe como?
A população gaúcha vai precisar de toda ajuda possível. Dinheiro, empregos, roupas, sapatos, alimentos, casas, amor, cuidado, carinho. Para quem é de fora do RS e quiser doar, separei as entidades que conheço e confio para que possam fazer sua contribuição. É uma forma que encontrei de ajudar.
Animais:
Deise Falci - Pix: deiseifalci@gmail.com
Grad Brasil - Pix: doe.gradbrasil.org.br
Alimentos e outros itens:
Ação Cidadania: Pix - sos@acaodacidadania.org.br
Cufa - Pix doacoes@cufa.org.br
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Acompanhando tudo de longe, nem consigo imaginar o cenário… muita força e resiliência para começarem de novo Pri!