36 - É sorte ou talento? | Carreiras #20
Por que acreditamos que algumas pessoas nasceram que aquilo virado pra lua? Será uma pitada de sorte? Ou será que aquela pessoa entrou várias vezes na fila do talento? Bora papear!
Será que algumas pessoas têm mais sorte que outras na carreira?
Essa pergunta estava me intrigando desde a pesquisa que fiz para escrever o texto da semana passada sobre talentos e habilidades.
Será que é só descobrir quais são nossos talentos que está tudo resolvido como um passe de mágica?
O trabalho dos sonhos surge em uma bela e ensolarada manhã de segunda-feira e o tão desejado "trabalhe com o que você ama que nunca mais precisará trabalhar" é uma constante em nossa vida?
Inquieta e curiosa que sou, fui atrás de respostas.
Para o filósofo Mario Sergio Cortella, "a sorte sozinha não faz nada. A sorte é o resultado, a conclusão de um processo de construção na qual se aproveitam as circunstâncias favoráveis com a iniciativa à inteligência, à habilidade." O sucesso em qualquer carreira nunca vem de graça e não é apenas sorte. É uma somatória de talento, dedicação e muito trabalho.
"Quanto mais eu treino, mais sorte eu tenho"
Essa frase é muito comum quando se trata da carreira de atletas profissionais. Será que só o talento é suficiente para transformar qualquer garoto ou garota no próximo Ronaldinho Gaúcho ou Martha? Ou é estar no lugar certo na hora certa, contando com o fator sorte?
O ex-nadador americano Michael Phelps conquistou 37 recordes mundiais e é detentor do maior número de medalhas de ouro (oito no total) em uma única edição olímpica, nos Jogos de Pequim, na China, em 2008.
A ex-jogadora de basquete, Hortência Marcari, é a maior pontuadora da história da Seleção Brasileira de Basquete, com 3.160 pontos marcados em 127 partidas oficiais. Disputou cinco Mundiais de Basquete e duas Olimpíadas, conquistando a medalha de prata nos Jogos Olímpicos de Atlanta, em 1996. Além disso, Hortência faz parte do Hall da Fama do Basquetebol Feminino dos Estados Unidos e foi escolhida a melhor jogadora de todos os tempos em Mundiais, em eleição aberta ao público.
Hortência tem uma declaração que eu adoro porque deixa bem claro o quanto é importante conhecermos nossos talentos, nos dedicarmos a aperfeiçoá-los e ir atrás deles:
“Cresci numa família muito simples, com seis irmãos - quatro homens e duas mulheres. Ninguém praticava esporte. Não tive absolutamente nenhum incentivo para jogar basquete, nada. Por outro lado, nunca me proibiram. Sempre decidi, sempre escolhi. Vi que queria ser uma atleta e fui em busca disso. Quando você quer realmente, tem aquele dom, ama aquilo que escolheu, não precisa de ninguém incentivando. Você corre atrás."
Talento sem esforço não sai do lugar
A professora da Universidade da Pensilvânia e autora do livro Garra: o poder da paixão e da perseverança, Angela Duckworth, afirma que "talento é a rapidez com que as habilidades de uma pessoa aumentam quando ela se esforça." Quando ambos caminham lado a lado, o sucesso é inevitável, porque o esforço apura a habilidade e a torna produtiva.
"Talento é uma tarefa demorada e delicada que não acontece da noite para o dia. Requer não só encantamento e paixão, mas também paciência e vontade de fazer melhor." — Revista Vida Simples, edição 228, Janeiro/2021
Evite jogar luz no que é negativo
Se ao longo da vida não aprendemos sobre a importância de conhecer e desenvolver nossos talentos, o outro lado dessa história é bastante conhecido por nós.
Lembra quando você tinha uma nota muito baixa em uma matéria na escola e outra muito boa no boletim? Quando isso acontecia, o que seus pais faziam: conversavam sobre a nota alta ou aquela que você não foi bem?
Eu não conheço pais que elogiam a nota alta e não se importam com aquela nota baixa. Eu mesma faço isso com meu filho de 14 anos. Ele não é muito bom em História, e tem notas melhores em Português. Adivinha qual é a disciplina que eu mais pego no pé dele?
A escola, a família, a sociedade, o mercado de trabalho, todos jogam luz no que está ruim e não se preocupam com o que está bom. É aí que está o erro, pois focamos em nossos pontos fracos ao invés de potencializar nossos pontos fortes.
No meu último trabalho em CLT, assumi um cargo de liderança. Logo nos primeiros dias de trabalho um colega me convidou para almoçar e perguntou se eu sabia quais eram meus pontos fracos, aquilo que eu não sabia fazer bem. Não soube responder de bate pronto e ele soltou algo do tipo: "pois então descubra quais são para você começar a trabalhar neles e transformar em pontos fortes." Esse ainda é o pensamento de grande parte das pessoas que estão no mercado de trabalho. Como pesquisadora sobre o tema eu garanto que jogar luz naquilo que você não é bom é desperdiçar tempo, energia e dinheiro - além da sua felicidade - em busca de algo que talvez nem seja importante.
No início da minha carreira, eu não olhava meus pontos fortes. Pelo contrário. Teve um período em que eu escondi das pessoas a minha formação em jornalismo. Na minha cabeça, por que as pessoas iriam contratar uma consultora de negócios (minha primeira carreira como empreendedora) se eu não tivesse formação na área? Hoje, 12 anos depois, eu vejo que esse pensamento era uma grande bobagem. Eu estava jogando luz naquilo que eu não estava preparada "oficialmente" e estava deixando de lado meu talento natural em me comunicar e me conectar com as pessoas.
Como escrevi na news da semana passada, "hoje, atuando como Mentora de Carreiras, eu aplico meus conhecimentos em comunicação, planejamento e escolhas de carreiras para guiar outras pessoas em suas descobertas profissionais. Talento e habilidade podem se misturar com paixão."
O Márcio, meu marido, é um dos melhores jornalistas que conheço. Diferente de mim que me garanto na escrita, ele é bom nos textos, em rádio e tv. Ele nasceu com o talento da comunicação ativado em todos os modos. Porém, o primeiro curso que ele fez na faculdade foi Arquitetura por influência do pai. Durante meses ele se dividiu entre as aulas de desenho, maquetes e história. Ao final do primeiro ano, ele foi reprovado na disciplina de Introdução à Arquitetura. Nesse dia, ele juntou todas as plantas baixas, os croquis e os desenhos, fez uma bola e chutou em cima do telhado da cantina da faculdade. No mesmo dia fez a inscrição para o curso de jornalismo.
Identificar seus talentos e não fazer nada com eles não significa sucesso, tão pouco felicidade. Muitos de nós deixamos os nossos talentos adormecidos porque não achamos que é o momento de despertá-los, seja por medo de não dar certo ou simplesmente porque não damos bola para eles. Muitas pessoas passam a vida começando coisas e deixando pela metade. Vivem se desencontrando de suas habilidades naturais, e o preço que pagam é não conseguir preencher o buraco que têm por dentro.
O desenvolvimento de habilidades é um processo contínuo que exige tempo e dedicação. É normal sentir medo, mas eles fazem parte do processo de aprendizagem e sempre são oportunidades de aprender. E, principalmente, acredite no seu potencial e persista.
Quer ajuda para descobrir seus talentos e habilidades?
Descobrir suas habilidades e talentos é a forma mais eficaz de saber o que pode ser potencializado para aquele próximo passo ou mesmo pra aquela mudança de carreira. Você sabe quais são os seus talentos? Quando tentei descobrir os meus foi uma tarefa difícil porque fiz sozinha, sem um método prático pra isso. Resolvi estudar e ajudar mais pessoas a fazerem isso do jeito certo.
Sou mentora de carreiras e já ajudei mais de 100 pessoas nesse processo de transição ou de preparação para uma tomada de decisão consciente. Agende um café comigo sem compromisso e quem sabe a gente possa mapear seus talentos e habilidades e você transformar a vida profissional, conquistando sucesso e felicidade. :)
Um bom papo acompanhado de uma deliciosa xícara de café
Tem novidades chegando aqui na news!! A partir da próxima semana, quinzenalmente, meu amigo Rodrigo Cotrim, da @escoladecomida, vai compartilhar textos onde unirá o mundo da comida, com uma abordagem voltada à gastronomia, ao universo de planejamento de carreiras. Essa parceria tem como objetivo oferecer uma perspectiva única que harmonize paixões e profissões.
O Rodrigo é Pesquisador, Editor Científico e Professor Interdisciplinar da Gastronomia com 18 anos de experiência em consultoria estratégica em Marketing para pequenas empresas. Líder da Babette Food Experiences e fundador da Escola de Comida. Cria experiências gastronômicas, pontes de conhecimento e busca compreender as dimensões culturais, sociais e econômicas da comida e de suas indústrias.
Te esperamos na semana que vem! :)
Esta edição foi escrita no Café Cultura, que fica no Pátio 24, uma charmosa galeria em Porto Alegre. O lugar é pequeno e aconchegante e tem uma mesa comprida só para trabalhar. Apesar do barulho (o que é normal!), ver outras pessoas com seus fones de ouvido, concentradas no trabalho, me fez sentir vibrante e feliz. Ah, se vier conhecer o café e for fã de canela, não deixe de experimentar o cinnamon, uma delícia levinha e saborosa.
Dê o play e boa leitura! 🧡
Nos vemos na próxima semana!
Com carinho,
Pri
Eu - que to beeeeem longe de ser um Phelps, mas ok! - levo "bronca" na terapia semana sim semana não porque atribuo muito do que conquisto à sorte. Tenho muita dificuldade de dissociar a sorte que tenho e tive desde os privilégios prévios até acontecimentos que parecem surgir do nada e sem grandes esforços. Mas já entendo o quão cruel é esta visão comigo mesma, e com tudo que abri mão, a tudo que me dediquei... Que minha terapeuta não me escute, mas ainda acho que uma dose de sorte faz parte!